terça-feira, 26 de janeiro de 2010

CRIANÇAS QUE USAM MENSAGENS DE TEXTO SMS EM CELULARES LEEM E FALAM MELHOR QUE OUTRAS



Um estudo publicado pela British Academy afirma que crianças que usam mensagens de texto SMS em celulares (ou "texting") leem e falam melhor que as demais. Publicado na última quarta-feira (20), o estudo diz que pais e professores devem estimular a prática como forma de melhorar a atenção fonoaudiológica das crianças.

Segundo o jornal inglês "The Independent", boa parte das crianças que escrevem abreviações de palavras dominam a forma de pronunciá-las corretamente. Pesquisadores também notaram um aumento de atenção quando algumas palavras rimavam com outras.
No entanto, os pesquisadores não conseguiram detectar qualquer sinal de que a frequência de texting tem efeito na habilidade de escrever dentro das normas corretas da língua inglesa. Eles chegaram apenas à conclusão de que usuários frequentes eram mais propensos a ter altas avaliações em testes de fluência verbal.

A pesquisa, conduzida entre um grupo de crianças entre oito e 12 anos, concluiu que os usuários mais regulares de SMS eram os que tinham menos problemas em ler e falar em sala de aula.
O aumento do uso desse tipo de comunicação gerou opiniões de que o texting estaria destruindo as linguagens.
Professores também constatam o crescimento do uso de linguagens comprimidas, características de SMS, em provas e exames.
"Estudamos esta área, inicialmente, para ver se havia alguma evidência de associação entre o uso do texto abreviado e a alfabetização, após o retrato negativo da atividade na mídia", disse Clare Wood, especialista em desenvolvimento psicológico da Universidade Coventry.
"Ficamos surpresos em ver que não apenas a associação era forte, mas que o uso de mensagens de texto auxilia no desenvolvimento de habilidades fonoaudiológicas e da capacidade de leitura em crianças", disse ela.

Fonte: Folha Online/UOL Notícias


De fato, esse é um assunto um tanto polêmico para muitos profissionais da área educacional, razão pela qual gostaria  de aproveitar essa "polêmica" para "ouvir" um pouco a opiniãode vocês.
Vamos lá, expressem suas opiniões! Postem seus comentários!

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

UNESCO: BRASIL AVANÇA NA EDUCAÇÃO, MAS SEGUE EM POSIÇÃO INTERMEDIÁRIA



Brasil tem a maior população de crianças fora da escola na região do Caribe e América Latina

Programas governamentais como o Bolsa Família, o Fome Zero e o Brasil Alfabetizado ajudaram o Brasil a melhorar nos índices de educação avaliados pela Unesco no relatório Alcançando os Marginalizados, divulgado nesta terça-feira (19/01/2010).

No entanto, estes avanços não foram suficientes para tirar o país de uma posição intermediária no continente, ficando ao lado de países como Peru, Paraguai e Bolívia, de acordo com a agência da ONU.
Argentina, Cuba e México, entre outros, já alcançaram ou estão próximos de alcançar o índice ideal proposto pela Unesco.
Apesar de progressos limitados entre os anos de 1999 e 2007, o Brasil permanece sendo o país com a maior população de crianças fora da escola na região do Caribe e América Latina e o 12º país na esfera mundial.
No Brasil, 901 mil crianças, com idade entre 7 e 10 anos, estavam fora da escola em 2007 - ao redor do mundo, 72 milhões de crianças não tinham acesso à educação.

Repetência

Outro ponto crítico levantado pela pesquisa é a alta taxa de repetência na escola primária no Brasil. Enquanto a taxa de repetência na região da América Latina e Caribe era menor do que 4% em 2007, no Brasil, ela chegava a 19%.
A qualidade da educação oferecida também foi avaliada. Alunos com oitos anos de educação tiveram a sua habilidade de leitura testada.
No Brasil, assim como no Chile, Colômbia, México, Uruguai e Argentina, entre 36% e 58% dos alunos foram incapazes de demonstrar uma capacidade de leitura normalmente alcançada no meio da escola primária em países desenvolvidos.
O Relatório de Monitoramento Global da Unesco avalia o progresso feito em 160 países para alcançar os seis objetivos propostos pelo projeto Educação Para Todos.
O projeto foi assinado pela comunidade internacional em 2000, em Dacar, no Senegal, e estabelece metas específicas a serem alcançadas até o ano de 2015.
O relatório deste ano ressalta que muitos dos progressos conseguidos na última década na área da educação podem estar ameaçados pela desaceleração econômica mundial.
De todas as regiões em desenvolvimento, América Latina e Caribe lideram os avanços no projeto Educação Para Todos.

Inclusão social

Projetos de assistência social, como o Oportunidades, no México, e o Bolsa Família, no Brasil são reconhecidos pela Unesco como meios para combater a marginalização no setor da educação.
No Brasil, o Bolsa Família ajudou a transferir de 1% a 2% da renda nacional bruta para a parcela da população mais pobre do país, formada por 11 milhões de pessoas.
"Há um limite no que se pode avançar no setor da educação por meio da escola apenas. O maior problema no Brasil está relacionado à pobreza e à desigualdade de renda", afirmou o diretor do Relatório de Monitoramento Global da Unesco, Kevin Watkins, em entrevista à BBC Brasil.
"O Brasil e a comunidade internacional ainda não se deram conta da importância e do impacto de um programa como o Bolsa Família", acrescenta Watkins.
De acordo com o texto divulgado pela Unesco, avanços na área da educação exigem intervenções específicas integradas com uma estratégia mais ampla para a redução da pobreza e a inclusão social.
Outra iniciativa brasileira citada no estudo é o Fome Zero. O relatório aprova os resultados obtidos pelo programa, incluindo a garantia de alimentação para 37 milhões de crianças nas escolas do país.
Já o Brasil Alfabetizado, coordenado pelo Ministério da Educação, é apontado pela Unesco como um programa de sucesso, que já ofereceu curso de alfabetização para cerca de 8 milhões de brasileiros.

FONTE: bbcbrasil.com / UOL notícias

UMA PAUSA PARA REFLETIR ...


Em meio aos últimos acontecimentos as palavras parecem ficar cada vez mais distantes e o pensamento cada vez mais confuso diante de tantas tragédias.
O olhar fixo a uma realidade tão miserável , que às vezes é  difícil acreditar que se trata de um mundo real.
Minha indignação é infinita e minha tristeza é profunda diante de tamanho caos.
Desespero, choro, medo, perda, dor, morte... silêncio eterno.
Por quê?
A mente viaja em busca de respostas e chega a um destino cruel: um labirinto sem início e fim.
E mesmo assim fico, como tantos outros, sem acreditar que diante de tanta angústia e dor ainda haja espaço para o egoísmo e a maldade humana.
Como disse um famoso jornalista hoje, pela manhã: "Não há como não comparar aqueles que estão doando tudo, inclusive a própria vida, como os militares brasileiros e a Doutora Zilda Arns, aqueles que estão doando no Brasil, fabricantes de remédios que se unem em Goiás para mandar material ao Haiti, aos egoístas que estão usando o dinheiro do povo, dos impostos de todos no Brasil inteiro."
Tudo isso só intensifica cada vez mais a falta de "humanidade" do próprio homem, nos afogando nos "oceanos" da injustiça, da falta de ética, de escrúpulos, da falta de caráter... da falta de vergonha na cara.
O que me motiva e, de certa forma, me impulsa e ainda, me faz ter orgulho de ser brasileira (mesmo com tanta "podridão" e tanta canalhice em nossa nação) é a existência de pessoas como o sargento que salvou uma enfermeira em Porto Principe, que marvilhado com sua conquista agradeceu à Deus por está lá, naquele local, naquele terremoto, não se importando com o que poderia acontecê-lo, mas preocupando-se em fazer valer a sua missão pessoal e profissional, a de salvar vidas, mesmo que isso pudesse custar a sua própria: “A primeira coisa que pensei foi graças a Deus que estamos aqui”.

É de seres humanos assim que o mundo e o Brasil precisa.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

PLANEJAMENTO: UMA FERRAMENTA IMPRESCINDÍVEL





Às vesperas do retorno ao trabalho, muitos educadores ainda batalham em busca das melhores estratégias para preparar um bom planejamento.
Tentando, mais uma vez, auxiliar esses educadores, aproveitei o material do site educarede sobre o assunto, que estou usando como  um dos textos base para preparar a semana pedagógica da instituição de ensino que coordeno, para socializá-lo aqui no blog.
Boa leitura e um bom planejamento a tod@s!


PLANEJAMENTO

PLANEJAMENTO DO ENSINO

:: Por que planejar?

O papel da escola na construção de um país mais justo é fundamental, e ele se concretiza pela ação educativa. Desse modo, o trabalho do educador é tão complexo e importante que não pode ser improvisado. Cada professor, conhecendo os alunos com os quais trabalhará, tem de saber o que vai ensinar, para quê e como fará isso ao longo do trabalho educativo. Assim também, a escola como um todo, a partir das diretrizes gerais para a rede pública, define-se estabelecendo prioridades e ações, ou seja, seu Projeto de escola.

Planejar é prever e organizar as ações com determinadas finalidades, para se conseguir atingir mudanças.


:: O Projeto de Escola

Em seu Projeto de Escola, cada unidade escolar deve estabelecer quais são seus objetivos educativos:

• Que transformações pretende gerar em seus alunos e na comunidade escolar?

• Que ações educativas irá promover?

• Que recursos humanos e materiais a escola possui?

• Qual será o período de tempo disponível?


O Projeto de Escola deve considerar as reais necessidades da comunidade na qual a escola está inserida, em particular as necessidades educativas de seus alunos:

• Qual é a realidade da escola?

• Quais são os principais problemas?

• Os alunos têm realmente aprendido?

Assim, ao identificar e analisar as dificuldades que a escola enfrenta e o que pretende mudar é possível estabelecer objetivos e metas comuns a toda a equipe. As diferentes ações pedagógicas, desde o atendimento dos pais à realização de uma aula de Biologia, vão ser pensadas e organizadas a partir dessas linhas comuns e das metas combinadas.

Nesse sentido, uma das funções centrais do Projeto de Escola é selecionar e organizar os conteúdos necessários para dar conta dos objetivos educativos.

Esses conteúdos, por sua vez, são informações, conceitos, conhecimentos, valores, práticas e todas as formas culturais que os alunos devem aprender para que o processo educativo se realize de acordo com as intenções traçadas no Projeto de Escola.


:: Planejamento de Ensino

Em uma escola democrática, o Projeto de Escola é feito coletivamente e deve ser a base para todas as atividades de ensino e de aprendizagem planejadas pelos professores para serem desenvolvidas em sala de aula.

Esse planejamento do processo de ensino e aprendizagem que os professores devem construir para orientar sua ação pedagógica na sala de aula é aqui chamado de Planejamento do Ensino.


:: O Planejamento do Ensino em ação

A concretização do Planejamento de Ensino ocorre na sala de aula, com um professor e sua classe desenvolvendo atividades de ensino e de aprendizagem. Sala de aula, aqui, não deve ser considerada apenas o espaço entre quatro paredes, com carteiras e uma lousa; mas sim, todo e qualquer espaço no qual atividades de ensino e aprendizagem estejam ocorrendo. Por exemplo, quando um professor e os alunos de uma classe encontram-se em um bosque, num parque distante da escola, desenvolvendo uma atividade de educação ambiental, então, aquele bosque torna-se uma sala de aula. Assim também, um laboratório, o pátio da escola, um museu, uma oficina ou um estabelecimento industrial ou comercial no qual, por motivos educativos, o professor se encontra com seus alunos, desenvolvendo atividades de ensino e aprendizagem.


:: Ingredientes para planejar

Para falarmos de planejamento – seja o da escola ou da sala de aula – é preciso, primeiramente, deixar claro entre o grupo algumas idéias:

• De que tipo de escola estamos falando? que relações estabelecemos entre escola e sociedade?

• Qual o sentido social da profissão de educador, seja ele professor, coordenador, supervisor, diretor de escola, membro de equipe técnica ou de apoio?

• Quando um professor, em cooperação com seus colegas, elabora seu Planejamento do Ensino, é importante ter em conta que sua ação profissional deve ser pensada em termos de um otimismo crítico, ou seja, o professor deve ter claro que as escolhas que faz quando elabora seus planos e as orientações que imprime no decorrer de cada aula devem ser coerentes com o Projeto de Escola, assim como, com uma perspectiva crítica e transformadora da realidade.

• Essa preocupação com a concepção de educação que rege as ações do professor é fundamental para que o espaço da sala de aula não se transforme em um local de reprodução de injustiças, onde o conhecimento é visto como um pacote fechado a ser transmitido mecanicamente aos alunos.


:: A importância de conhecer o aluno

O Planejamento do Ensino começa com o professor considerando:

• Quem são meus alunos?

• Quais são os conhecimentos e as experiências de vida que eles têm com relação aos conteúdos das atividades que estarei propondo?

• Quais são as suas expectativas e dificuldades?

Essa preocupação em conhecer os alunos é muito importante, pois o professor pode se enganar quando confunde os alunos reais, aqueles que estão em sua sala de aula, com um modelo idealizado, geralmente aquele que “todo professor gostaria de ter”: saudável, bem alimentado, cuidado pela família, com acesso a livros, computador, centros culturais e lazer.

Diante dessas observações, fica claro que o Planejamento do Ensino não pode ser feito para qualquer aluno, considerando apenas as características do conhecimento, ou do conteúdo, em jogo nas atividades de ensino e aprendizagem.

Para o educador que trabalha com uma perspectiva inclusiva, que se preocupa com as reais condições culturais de seus alunos, o Planejamento do Ensino deve considerar os valores, os saberes e as experiências práticas que eles possuem, selecionando e organizando os conteúdos do ensino coerentemente com essas condições.

Dessa forma, se os alunos têm origem em famílias com pouca escolaridade, que não possuem livros em casa, que não lêem jornal cotidianamente, crianças que não têm a experiência de ganhar livros de literatura infantil, ou juvenil, então, o Planejamento do Ensino precisa considerar que essas práticas sociais devem estar presentes na própria escola. Esta, por sua vez, deve se organizar para suprir da melhor forma possível todas as faltas que a condição de exclusão de seus alunos possa estabelecer.


:: Acompanhar e avaliar o projeto

Os projetos de escola e o planejamento do ensino não são documentos prontos e acabados. Na verdade, são estruturados como um processo. São alterados de acordo com mudanças processadas no ambiente escolar, na comunidade e nos alunos na sala de aula.

No caso, por exemplo, do Projeto de Escola é preciso observar as mudanças que vão ocorrendo, acompanhar o desencadeamento das ações, perceber seus resultados e, quando necessário, modificar os rumos do projeto. É preciso que a comunidade escolar, liderada pela equipe de educadores, assuma uma posição atenta, crítica e autocrítica quanto ao percurso do projeto.

Além da avaliação feita pelos educadores, sem dúvida indispensável, é importante incentivar as críticas vindas dos alunos, dos pais que podem contribuir para o desenvolvimento do projeto. Por isso, é importante abrir a escola para a avaliação da comunidade.

Quanto ao Planejamento de Ensino, a avaliação diversificada é fundamental para o replanejamento das ações pedagógicas futuras. É preciso saber se:

• Os alunos compreenderam os conceitos?

• As atividades propostas foram adequadas?

• Atingiram os objetivos propostos? suas habilidades foram desenvolvidas?

• Que atitudes revelam mudanças?

• Houve trabalhos em grupos e individuais e com todos?

• As propostas foram diversificadas?

O Planejamento do Ensino que, como foi dito, se realiza no espaço da sala de aula, envolve sempre quatro componentes que não podem ser considerados isoladamente:

• O aluno que aprende;

• O professor que ensina;

• Um ou mais conteúdos de aprendizagem;

• A avaliação.


PLANEJAMENTO NA ESCOLA...


:: Sala de aula: planejar ou improvisar?

Em uma sala de aula, durante a fala do professor, um aluno formula uma pergunta. O professor ouve atentamente e se vê diante de um dilema: O que fazer? Responder a pergunta objetivamente e continuar a exposição? Anotar a questão no quadro e dizer que responderá ao terminar o que está expondo? Anotar a pergunta e pedir a toda classe que pense na resposta? Solicitar ao aluno que anote a pergunta e a repita ao final da exposição? Qual a conduta mais correta?

Escolher uma resposta adequada depende de vários fatores que devem ser considerados pelo professor. Entre eles, se a pergunta contribui para o desenvolvimento da atividade de ensino e aprendizagem naquele momento, ou ainda se existe pertinência em relação ao conteúdo em jogo na atividade.

A pergunta pode evidenciar um nível de compreensão conceitual mais elaborado de um aluno se comparado à maioria da classe. Respondê-la naquele momento transformaria a aula em uma conversa entre o professor e aquele aluno, que dificilmente seria acompanhada pelos demais. Pode também revelar uma criança ou jovem com dificuldade de compreender o conceito em questão, o que sugere algum tipo de atenção mais individualizada. É possível concluir ainda que a questão seria uma ótima atividade de aprendizagem em um momento posterior, quando certos aspectos do conteúdo já estiverem esclarecidos.


:: Planejar: coerência para as ações educativas

O professor tem um papel fundamental de coordenar o processo de ensino e aprendizagem da sua classe. “É preciso organizar todas as suas ações em torno da educação de seus alunos. Ou seja, promover o crescimento de todos eles em relação à compreensão do mundo e à participação na sociedade”. Para isso, ele precisa ter claro quais são as intenções educativas que presidem esta ou aquela atividade proposta. Na verdade, ele precisa saber que atitudes, habilidades, conceitos, espera que seus alunos desenvolvam ao final de um período letivo.

Certamente isso significa fazer opções quanto aos conteúdos, às atividades, ao modo como elas serão desenvolvidas, distribuir o tempo adequadamente, assim como fazer escolhas a respeito da avaliação pretendida. Se essas intenções estiverem claras, as respostas a esta ou àquela pergunta ou a diferentes situações do cotidiano de uma sala de aula serão mais coerentes com os objetivos e propósitos definidos.

O Planejamento do Ensino tem como principal função garantir a coerência entre as atividades que o professor faz com seus alunos e as aprendizagens que pretende proporcionar a eles.


:: Quem faz o planejamento

A elaboração do Planejamento do Ensino é uma tarefa que cada professor deve realizar tendo em vista o conjunto de alunos de uma determinada classe, sendo, por isso, intransferível. O ideal é desenvolver esse Planejamento em cooperação com os demais professores, com a ajuda da coordenação pedagógica e mesmo da direção da escola, mas cada professor deve ser o autor de seu Planejamento do Ensino. Quantas vezes nós, professores, ouvimos um aluno perguntar: - Professor, por que a gente precisa saber isso? Quantas vezes, no tempo em que éramos alunos, fizemos essa mesma pergunta a nossos professores, sem nunca obter uma resposta satisfatória?


:: Flexibilidade

Vale lembrar que nenhum Planejamento deve ser uma camisa-de-força para o professor. Existem situações da vida dos alunos, da escola, do município, do país e do mundo que não podem ser desprezadas no cotidiano escolar e, por vezes, elas têm tamanha importância que justificam por si adequações no Planejamento do Ensino.

No processo de desenvolvimento do ensino e da aprendizagem, novos conteúdos e objetivos podem entrar em jogo; outros, escolhidos na elaboração do plano, podem ser retirados ou adiados. É aconselhável que o professor reflita sobre suas decisões durante e após as atividades, registrando suas idéias, que serão uma das fontes de informação para melhor avaliar as aprendizagens dos alunos e decidir sobre que caminhos tomar.

Além disso, as pessoas aprendem o mesmo conteúdo de formas diferentes; portanto, o Planejamento do Ensino é um orientador da prática pedagógica e não um “ditador de ritmo”, no qual todos os alunos devem seguir uniformemente. Ao longo do ano letivo e a partir das avaliações, algumas atividades podem se mostrar inadequadas, e será necessário redirecionar e diversificá-las, rever os conteúdos, fazer ajustes.


:: Registro

Vale destacar que a forma de organizar o Planejamento do Ensino aqui apresentado é uma escolha. O importante é o professor ter alguma forma de registro de suas intenções, procurando agir pedagogicamente de forma coerente com os objetivos específicos e gerais traçados no Projeto de Escola e em seu Planejamento do Ensino. A forma como cada professor registra seu Planejamento não deve ser fixa, para que cada profissional possa fazê-lo da forma como se sente melhor. Mas, se um educador deseja ser um profissional reflexivo, que pensa criticamente sobre sua prática pedagógica e se desenvolve profissionalmente com esse processo, ele precisa registrar seu Planejamento do Ensino.

"Redigir o projeto não é uma simples formalidade administrativa. É a tradução do processo coletivo de sua elaboração [...]. Deve resultar em um documento simples, completo, claro, preciso, que constituirá um recurso importante para seu acompanhamento e avaliação."


:: Componentes do planejamento do ensino

O Planejamento do Ensino, chamado também de planejamento da ação pedagógica ou planejamento didático, deve explicitar:

As intenções educativas – por meio dos conteúdos e dos objetivos educativos, ou das expectativas de aprendizagem;

Como esse ensino será orientado pelo professor – as atividades de ensino e aprendizagem que o professor seleciona para coordenar em sala de aula, com o propósito de cumprir suas intenções educativas, o tempo necessário para desenvolvê-las);


:: Conteúdos e objetivos

Conteúdo é uma forma cultural, um tipo de conhecimento que a escola seleciona para ensinar a seus alunos. Informações, conceitos, métodos, técnicas, procedimentos, valores, atitudes e normas são tipos diferentes de conteúdos. Informações, por exemplo, podem ser aprendidas em uma atividade, já o algoritmo da multiplicação de números inteiros, que é um procedimento, não. Esse é um tipo de conteúdo cuja aprendizagem envolve grandes intervalos de tempo e que necessita de atividades planejadas ao longo de meses, pelo menos.

Valores são conteúdos aprendidos nas relações humanas, ocorram elas no espaço escolar ou não. Muitas vezes, aprender um valor pode significar também mudar de valor, o que torna o ensino e a aprendizagem de valores, e de atitudes também, um processo complexo, que não se resolve apenas com a preparação de atividades localizadas. Em uma escola onde o respeito mútuo e o combate a qualquer tipo de preconceito de gênero, de etnia ou de classe social estejam ausentes no dia-a-dia, não há como ensinar valores e atitudes por meio de atividades ou “sérias conversas” sobre esses temas.

Os conteúdos do Planejamento do Ensino são aqueles que guiaram a escolha das atividades na elaboração do plano e são os conteúdos em relação aos quais o professor tentará observar, e avaliar, como se desenvolvem as aprendizagens, pois isso não seria possível fazer com relação a “todos” os conteúdos presentes na atividade.


:: Objetivos

Os objetivos educativos do Planejamento do Ensino, também chamados objetivos didáticos ou específicos, ou ainda de expectativas de aprendizagem, definem o que os professores desejam que seus alunos aprendam sobre os conteúdos selecionados. A forma tradicional de redigir um objetivo é utilizar a frase “ao final do conjunto de atividades, cada aluno deverá ser capaz de...”. Não há problema em definir dessa forma os objetivos no Planejamento do Ensino, desde que os alunos não sejam obrigados a atingi-los todos ao mesmo tempo. É possível definir esses objetivos descrevendo as expectativas de aprendizagem da forma que for mais fácil de compreendê-las.

Os objetivos educativos do Planejamento do Ensino são importantes porque muitos conteúdos, os conceitos científicos entre eles, são aprendidos em processos que se complementam ao longo da escolaridade. Por exemplo, se um aluno das séries iniciais do Ensino Fundamental afirmar que célula é uma “coisa” muito pequena que forma o corpo dos seres vivos, pode-se considerar que seu conhecimento sobre o conceito de célula está em bom andamento. Mas, se esse for um aluno de 1a série do Ensino Médio, então, ele está precisando aprender mais sobre esse conceito.

Os objetivos educativos do Planejamento do Ensino definem o grau de aprendizagem a que se quer chegar com o trabalho pedagógico. São faróis, guias para os professores, mas não devem se tornar “trilhos fixos”, em seqüências que se repetem independentemente da aprendizagem de cada aluno.


:: Organização das atividades

A principal função do conjunto articulado de atividades de ensino e aprendizagem que devem compor o Planejamento do Ensino é provocar nos alunos uma atividade mental construtiva em torno de conteúdo(s) previamente selecionado(s), no Projeto de Escola, no Planejamento do Ensino ou durante sua realização.

Ao escolher uma atividade de ensino e aprendizagem para desenvolver com seus alunos, o professor precisa considerar principalmente a coerência entre suas intenções – explicitadas pelos conteúdos e objetivos – e as ações que vai propor a eles. Precisa também pensar em como aquela atividade irá se articular com a(s) anterior(es) e com a(s) seguinte(s). Uma atividade que está iniciando o trabalho sobre um ou mais conteúdos é muito diferente de uma atividade na qual os alunos estão discutindo um problema real, visto no jornal, por exemplo, baseados em seus estudos anteriores sobre conceitos que estão em jogo no problema.

As atividades devem ser de acordo com aquilo que se quer ensinar, seja a curto, médio ou longo prazo. A diversidade é uma de suas características principais: assistir a um filme, a uma peça teatral ou a um programa de TV; realizar produções em equipe; participar de debates e praticar argumentação e contra-argumentação; fazer leituras compartilhadas (em voz alta); práticas de laboratório; observações em matas, campos, mangues, áreas urbanas e agrícolas; observações do céu; acompanhamento de processos de médio e longo prazo em Biologia e Astronomia. Idas a museus, bibliotecas públicas, exposições de arte. Pesquisa em livros e revistas, com ou sem uso de informática e Internet. Assistir a uma exposição por parte do professor.

Novamente, deve-se insistir no fato de que a seqüência de atividades que compõe o Planejamento do Ensino deve levar em conta as experiências dos próprios alunos no decorrer de cada atividade escolhida. Existem planos que se realizam quase integralmente, os que se realizam em grande parte, ou aqueles que, simplesmente, precisam ser refeitos tendo como critério a avaliação da aprendizagem dos alunos.


:: Avaliação continuada

A avaliação continuada, ou mediadora da aprendizagem, indispensável no Planejamento do Ensino, é o instrumento por meio do qual o professor procura observar o desenvolvimento de seus alunos à medida que o processo de ensino e aprendizagem está em andamento. Essa observação tem por objetivo regular as atuações do professor, ou seja, dar a ele informações para que seja possível decidir se o que foi traçado no planejamento está correspondendo ao esperado ou não. Sendo que, no segundo caso, o professor precisa, então, refletir sobre o que deve mudar para que as aprendizagens esperadas comecem a se realizar ou melhorem. É importante frisar que essa avaliação não tem por objetivo dar nota aos alunos, mas sim regular o processo de ensino e aprendizagem.

Quando uma professora inicia seu trabalho em uma 2ª série e percebe que quase metade de seus alunos não consegue ler um pequeno bilhete de boas-vindas que ela havia preparado, então, deve começar a pensar no que fazer imediatamente, ou seja, tem que pensar em como irá articular as atividades de forma a proporcionar o desenvolvimento da leitura a todos os alunos, cada um partindo do estágio em que se encontra.

Sempre que um professor dá início ao trabalho com algum conteúdo, deve observar o que os alunos já sabem sobre esse conteúdo. Essa avaliação pode ser chamada de inicial Mas ela não se refere ao início do ano ou do bimestre e, sim, ao início do trabalho pedagógico com um determinado conteúdo. A avaliação inicial auxilia o professor a ajustar seu plano de ensino, principalmente considerando as diferenças entre seus alunos no momento de desenvolver as atividades selecionadas no planejamento.

Quando um professor de Ciências descobre que seus alunos da 6a série não conseguem resolver problemas porque têm dificuldades de leitura, deverá, então, colaborar com o desenvolvimento da competência leitora de seus alunos, ainda que trabalhando com textos específicos de sua área, como por exemplo, de divulgação científica, textos expositivos ou argumentativos.

Ao refletirmos sobre a avaliação mediadora do ensino e da aprendizagem em sala de aula, explicitamos uma função importante do Planejamento do Ensino: ser a referência que o professor utiliza para avaliar continuamente o processo de ensino e aprendizagem, com o propósito de garantir as aprendizagens dos alunos naqueles conteúdos eleitos no Planejamento.

A ORGANIZAÇÃO DE ATIVIDADES DE ENSINO E APRENDIZAGEM


O objetivo desse texto é refletir sobre o segundo componente: a organização de atividades de ensino e aprendizagem. Essas idéias de organização das atividades de ensino podem e devem ser adotadas para todos os ciclos, tanto no Ensino Fundamental quanto no Médio.

Uma aula expositiva e dialogada pode ser uma ótima atividade para formalizar um conceito que já vem sendo estudado há semanas em um projeto didático. Mas a mesma aula expositiva pode ser uma péssima escolha quando se trata de iniciar o trabalho com novos conteúdos ainda não problematizados com os alunos. Conteúdos diferentes precisam ser trabalhados com atividades diferentes. Mas, para além de cada atividade e seu conteúdo, é preciso pensar sobre a melhor articulação entre os diferentes conteúdos eleitos para serem ensinados e aprendidos, e os diferentes tipos de atividades presentes no trabalho pedagógico.

A aprendizagem não é um processo linear e ocorre com sucessivas reorganizações do conhecimento. Por isso, se o ensino estiver baseado em fragmentos de conhecimento correspondendo a intervalos de tempo iguais, estará fadado ao fracasso. Esse problema tem se repetido em nossas escolas no que diz respeito ao ensino e aprendizagem da leitura e da escrita. Os professores propõem a mesma atividade a todos os alunos e espera que todos a realizem no mesmo tempo, para dar prosseguimento ao “planejamento”. Mas as crianças não aprendem no mesmo ritmo e, em poucas semanas, várias já não conseguem compreender as propostas de atividade que o professor faz.

Para criar condições a fim de flexibilizar o tempo e a retomada dos conteúdos, a autora Delia Lerner sugere que se ponha em ação diferentes modalidades organizativas do ensino, que são: os projetos, as atividades habituais, as seqüências de atividades e as atividades independentes. Essas quatro diferentes modalidades organizativas devem coexistir e se articular ao longo do trabalho pedagógico.


:: Os projetos

Os projetos (também chamados de projetos didáticos), que não devem ser confundidos com os Projetos de Escola, são formas organizativas do ensino cuja principal característica é ter início em uma situação-problema e se articular em função de um propósito, um produto final, que pode ser um objeto, uma ação ou os dois (um livro, um mural, um prospecto de campanha, uma peça de teatro, uma peça radiofônica, um seminário). Uma qualidade importante dos projetos é oferecer um contexto no qual o esforço de estudar tenha sentido, e no qual os alunos realizem aprendizagens com alto grau de significação.

Não há um tempo ideal de duração de um projeto, pois, dependendo dos objetivos traçados, ele pode durar dias ou até meses. Os projetos de duração mais longa permitem ao professor compartilhar o planejamento das ações voltadas à construção do produto final com seus alunos, desenvolvendo também suas capacidades para elaborar cronogramas. Nesses casos, “uma vez fixada a data em que o produto final deve estar elaborado, é possível discutir um cronograma retroativo e definir as etapas que será necessário percorrer, as responsabilidades que cada grupo deverá assumir e as datas que deverão ser respeitadas para se alcançar o combinado no prazo previsto ”. É a modalidade organizativa do ensino que mais se afina com os trabalhos interdisciplinares.


:: Atividades habituais

As atividades habituais são situações propostas com regularidade – uma vez por semana ou por quinzena, por exemplo. Podem ser utilizadas quando um dos objetivos do trabalho é formar hábitos ou construir atitudes. A roda de notícias é um exemplo desse tipo de atividade: uma vez por semana, professor e alunos trazem para a sala de aula matérias colhidas recentemente nos jornais, lêem e comentam as notícias. A leitura de um romance também pode ser feita, passo a passo, por meio de atividades habituais.

Um professor de Matemática de 1ª série do Ensino Médio, que tem quatro encontros semanais com uma classe, desenvolve o estudo de funções em três desses encontros, por meio de atividades seqüenciadas, e uma vez por semana, desenvolve estudos estatísticos relacionados a um projeto interdisciplinar que a turma está realizando, em colaboração com os professores de Geografia e História. Esse encontro passa, então, a ser uma atividade habitual, relativa ao desenvolvimento do projeto.


:: Seqüências de atividades

As seqüências de atividades são situações articuladas que possuem um objetivo educativo comum relativo a um ou mais conteúdos de aprendizagem. É a modalidade organizativa mais utilizada pelos professores em seus planejamentos do ensino. Seu tempo de duração varia de acordo com os conteúdos e com os objetivos.


:: Situações independentes

As situações independentes são aquelas que, geralmente, correspondem a necessidades didáticas surgidas no decorrer do processo de ensino e aprendizagem. Uma aula em que o professor sistematiza um conhecimento que esteve em jogo no desenvolvimento de um projeto recém-terminado. Dois exemplos:

 Professores de um determinado ciclo preparam um debate, a partir de um documentário em vídeo, em função da ocorrência nas imediações da escola de fato que envolve questões de violência, ética e que pedem uma intervenção educativa por parte dos professores;

 Durante uma discussão sobre notícias de jornal (atividade habitual), um aluno trás um artigo de jornal comentando uma descoberta científica. A classe demonstra grande interesse pelo assunto, então, o professor sugere a uma equipe de alunos que prepare um seminário sobre o tema e marca uma atividade independente para a apresentação.

Esse último exemplo nos faz lembrar que o Planejamento do Ensino deve ser construído com flexibilidade, tendo um espaço para que atividades independentes possam ser realizadas. A característica mais marcante do ensino “tradicional” é colocar todos os alunos a “marchar” em passo rápido e uniforme, pois sempre há uma quantidade enorme de conteúdos a serem “dados”. Nada pode fugir ao rígido plano elaborado no início do ano e que deve ser cumprido custe o que custar.

Combinando as diferentes modalidades, o professor tem condições de organizar seu Plano de Ensino de modo a proporcionar aos alunos processos de aprendizagem mais significativos, articulando os diferentes conteúdos com as diferentes modalidades e, dessa forma, evitando a fragmentação do conhecimento e respondendo melhor ao desafio de ensinar.

PARA SABER MAIS SOBRE O ASSUNTO:

Leia:

CENPEC Projeto de escola Raízes e Asas. São Paulo, s/d

______Trabalho Coletivo na Escola Raízes e Asas. São Paulo, s/d

CORTELLA, Mario Sergio. A escola e o conhecimento – fundamentos epistemológicos e políticos. 3ª ed. São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire, 2000.

LERNER, Delia. Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário. trad. Ernani Rosa. Porto Alegre: Artmed, 2002.

ZABALA, Antonio. A prática educativa: como ensinar. trad. de Ernani Rosa – Porto Alegre: ArtMed, 1998.

HOFFMANN, Jussara. Avaliar para promover: as setas do caminho - Porto Alegre: Mediação, 2001.

GANDIN, Danilo,& GANDIN,Luis Armando.Temas para um projeto político-pedagógico Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.

PERRENOUD, Philippe. Dez novas competências para ensinar trad. Patrícia Chittomi Ramos. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.

__________________. Avaliação: da excelência à regulação da aprendizagem – entre duas lógicas trad. Patrícia Chittomi Ramos.Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.

Texto original: Vinicius Signoreli

Edição: Equipe EducaRede

Ilustrações: Michele Iacocca/Acerco CENPEC




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domingo, 17 de janeiro de 2010

HADDAD FALA SOBRE OS AVANÇOS DA EDUCAÇÃO EM 2009 E OS PROJETOS PARA 2010


Em entrevista ao jornal O Globo, publicada nesta terça-feira, 12, o ministro da Educação, Fernando Haddad, falou sobre os avanços da área em 2009 e os projetos para 2010. Abordou, entre outros temas, os desdobramentos dos exames nacionais do Ensino Médio (Enem) e de Avaliação de Desempenho dos Estudantes (Enade) de 2009. Outros assuntos da entrevista foram os hospitais universitários e o fim da desvinculação das receitas da União (DRU) para a educação.

Abaixo segue a entrevista concedida:

— Sobre o Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes), há muitas questões anuladas. O problema é de quem fez a prova? O senhor está satisfeito com quem o organiza? Há alguma coisa a ser feita?

— Desde que existe o Provão, e depois o Enade, o padrão de contratação tem sido sempre o mesmo: licita-se, a empresa elabora a prova com base em diretrizes estabelecidas pelas comissões do Inep ((Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) e, depois, julgam a conveniência ou não de manter a questão. Obviamente, existe uma margem para anulação que não pode chegar a 2% ou 3%; o limite aceitável, não tecnicamente, é esse. Numa prova com 100 questões, anular entre 2 e 3% seria aceitável, aí você chegar a 7%... eu considero um erro inaceitável. Quer dizer, dois por cento, e num limite justificável e excepcional, três por cento. É a primeira vez que essa empresa, que já fez outros exames com o MEC, ganha a licitação para fazer o Enade. Nós estamos vivendo um período de acomodação que é o fato de ter surgido ao longo de vinte anos, desde 1990, o Inep passou a fazer avaliação. Em 1990 foi o primeiro Saeb (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica), no governo Collor, e de lá para cá os exames só vêm ganhando importância.

— O exame vem ganhando importância e de repente Enem e Enade têm problemas; o que aconteceu?

— Empresas sem tradição venceram as licitações.

— O problema foi a licitação ou o jeito como elas foram selecionadas?

Bom, quem vai dizer isso aí é a auditoria sobre o Inep, que está para ser concluída. Cabe à auditoria fazer esse mapeamento pra verificar se houve problemas no processo licitatório ou se é uma decorrência natural do aparecimento de novos players nesse mercado de aplicação de provas. Eu entendo que, independentemente do resultado da auditoria, o Inep tem que internalizar algumas tarefas que não eram realizadas por ele, por exemplo, a elaboração de provas do Enade, eu conversei com o professor Joaquim José Soares Neto, para que ele visse a possibilidade de internalizar.

— Ou seja, quem vai fazer as questões agora é o próprio Inep?

— Nós já previmos esse tipo de situação na medida provisória que o Presidente assinou na última semana do ano passado. Tem alguns dispositivos que cria um auxílio de avaliação educacional, um pagamento que eu posso fazer nominalmente para a elaboração de provas, para contratar pessoas para fazer isso. Porque, pela legislação anterior, eu não poderia chamar um professor de uma universidade pública e pagar por esse serviço, porque ele já ganha para dar aula e pesquisar. Então, não tinha dispositivo que permitisse ao Inep remunerar o docente por essa atividade adicional que não está dentro das suas obrigações. Esse modelo já valerá para o Enade 2010. Com esse dispositivo, a Medida Provisória dá ao Inep condições que o Inep não tinha de, por exemplo, contratar pessoas para organizar as provas internamente sem a necessidade de licitar a elaboração da prova. Do mesmo jeito que a Prova Brasil e o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) são feitos internamente com um conjunto menos expressivo de profissionais, que têm que ser mobilizados para isso. Então é fácil fazer. No caso do Enade, com 60 áreas do conhecimento, você tem que mobilizar o exército pra elaborar as provas... Agora o Inep tem à disposição esse dispositivo, e vai poder internalizar a prova do Enade.

— O senhor teme que alguém questione a validade do Enade, com essas questões anuladas?

— Não, porque a anulação da questão visou preservar a qualidade da avaliação e não o contrário. Qual é o critério para cancelar um item? É quando ele não está discriminando adequadamente o conhecimento dos estudantes. Você faz uma pergunta inconclusiva sobre o conhecimento do estudante. Você não chega a conclusão nenhuma a partir da resposta. Você tem mais ou menos conhecimento daquela área específica. Esse é o critério para anular uma questão. Então as comissões fazem isso para preservar a qualidade da avaliação e não o contrário.

— O senhor falou da auditoria do Inep, como está a auditoria?

— Ainda não tive acesso. Isso tem que ser entregue formalmente.

— E o inquérito da Polícia Federal?

— Eu sei o que foi apurado por todo mundo. O inquérito chegou, você vê que tinha uma justificativa, estava protegido por sigilo. A partir do momento em que o juiz liberou, o superintende de São Paulo mandou o inquérito e isso permitiu ao auditor concluir o seu trabalho. Isso deve estar acontecendo esta semana, com a entrega da peça para a auditoria. Aí o presidente do Inep assina o relatório final, avalia e manda para os órgãos de controle para tomar as medidas cabíveis.

— O senhor poderia concluir o raciocínio sobre a questão das avaliações do Inep?

— Tem que internalizar a elaboração das provas. Essa MP vai resolver esse problema. O Enade e a Prova Brasil têm a questão do sigilo, mas a correção de um problema como o que aconteceu com o Enem, mesmo a prova tendo sido aplicada, não traz transtornos para a sociedade. Vamos supor que, das 27 áreas avaliadas no Enade, descobre-se por alguma razão que alguém teve acesso a uma prova de uma área específica. Você avalia as outras 26 áreas, aquela prova do Enade se anula e ela é feita no ano seguinte. Você não causa nenhum tipo de transtorno para a sociedade. Vamos supor que, como aconteceu no Saresp, parece que está razoavelmente mapeado. Parece que houve algum problema na aplicação da prova. Então definiram-se as escolas onde o problema foi localizado, abriu-se uma sindicância; se essa sindicância concluir que a aplicação foi imprópria você aplica de novo, quer dizer, o mesmo pode acontecer com a Prova Brasil. Suponha que haja uma suspeita de que numa escola a aplicação não foi adequada, houve interferência externa, os fiscais não estavam em sala de aula, você anula aquela avaliação e aplica de novo, não tem nenhum prejuízo. Vale para o Enade e para a Prova Brasil o que valia para o Enem dentro do ProUni (Programa Universidade para Todos). São provas de avaliação que podem ser canceladas e reaplicadas sem prejuízo para a sociedade. O prejuízo que haverá é o custo da aplicação daquela prova, que tem que ser refeita, mas não causa prejuízo para a sociedade. Para o Enem não se aplica e, por isso, eu quero que da mesma maneira que a USP não licita seu vestibular para 120 mil candidatos... Não faz sentido licitar o Enem para 4 milhões e 100 mil candidatos, sabendo que no modelo atual do Enem é aplicado em 1.800 municípios, em presídios, que mobiliza 300 mil fiscais de prova, que são 3 mil pontos de distribuição das provas, todas elas com escolta. Quer dizer, como você vai operacionalizar isso, correndo o risco de uma empresa vencedora de um certame tentar economizar nos custos, o que vai impactar na questão da segurança? Porque não há possibilidade de economizar na impressão, papel, correção, onde se economiza? Insisto em dizer que de todos os estudos que eu já vi do Inep, você não realiza o Enem com menos de 35 reais por inscrito, a não ser colocando em risco a segurança.

— Como está a recepção dessa sua proposta de dispensa de licitação?

— Está evoluindo bem. Nosso diálogo com os órgãos de controle, CGU e TCU está evoluindo muito bem. Estamos nos municiando de pareceres jurídicos para embasar essa decisão que é uma decisão de governo, não é uma questão que afeta o ministro da Educação, o governo atual, isso é uma questão estratégica para o país. A Fuvest faz o vestibular da USP há mais de trinta anos, isso tudo exige estabilidade para que não haja nenhum tipo de descompasso.

— Esses problemas negociais podem atrapalhar o cronograma do próximo exame?

— Podem ou não atrapalhar. Imagino que não, porque as pessoas estão muito atentas ao papel que o Enem assumiu no país.

— O Enem vai ser sem licitação em abril, é isso?

— Dependendo de como transcorrerem as coisas no final de janeiro, a possibilidade é essa.

— E seria o primeiro Enem sem licitação, com a possibilidade de fazer outro no segundo semestre?

— Isso, essa é a idéia.

— Com esse de abril as pessoas já entram na faculdade no segundo semestre?

Isso.

— Não está muito em cima do laço?

— Se for usar o modelo anterior, está.

— Com licitação? Mesmo com dispensa de licitação dá tempo?

— Nós realizamos o Enem em 45 dias.

— Não estava tudo pré-arrumado?

— Não, não tínhamos nada pré-arrumado. Foi outra prova, outros locais de prova. Porque se fosse com o mesmo consórcio está certo, mas nós afastamos o consórcio. Então foi outra prova, a única coisa arrumada que tinha era o banco de inscritos, que se faz em 15 dias; tudo mais, a correção, os 3.200 corretores de redação, os 300 mil fiscais de prova, os 8 mil pontos de aplicação, tudo isso foi feito em 45 dias.

— Corre-se o risco de alguém dizer que porque foi feito às pressas acabou ficando vulnerável?

— Você não pode fazer o Enem em 120 dias, você começa a correr riscos pela vulnerabilidade da estocagem, você tem um papel inverso, você não pode deixar a prova parada. A prova parada é uma prova vulnerável. Ela tem que ficar pouco tempo nos lugares, na gráfica ela fica pouco tempo, nos entrepostos e nas agências de correio elas ficam pouco tempo, para chegar no dia da prova e ser aplicada. A extensão do prazo não garante segurança, tem um tempo, mais é prejudicial e menos é prejudicial.

— Quando o senhor espera a resposta do TCU e da CGU?

— Eu estou esperando, na verdade, uma avaliação do professor Neto, neste momento. Ele acabou de assumir a presidência e me pediu 30 dias para elaborar o seu plano de trabalho de 2010. Então, por respeito a ele, estou aguardando que ele me apresente esse plano de trabalho.

— Falando em plano de trabalho, como é que está para 2010? O que ficou faltando fazer?

— Tem uma questão de curto prazo e têm questões que vão ocupar o país no próximo período. A questão de curtíssimo prazo, se você recuperar uma entrevista que dei há um ano, me perguntavam o seguinte: “Você sairá do MEC com alguma frustração de não ter conseguido realizar?” Eu dizia, tem muito tempo ainda para terminar meu trabalho no MEC. Mas eu assinalei três questões importantes naquela época: acabar com a DRU, realizar a reforma do sistema S, portanto a entrevista foi anterior a isso, e reestruturar os hospitais universitários. São três questões importantes para o país. Nós cumprimos duas, está faltando uma terceira, eu tenho uma audiência com o presidente Lula na segunda-feira... Além disso, nossa compreensão dos hospitais universitários aumentou muito, nós queremos um sistema operacional de gestão dos hospitais universitários, mapeamos a situação dos hospitais e apresentamos ao presidente e ao ministro da Saúde, José Gomes Temporão, a proposta de reestruturação com partilha dos custos.

— Esse assunto o MEC sempre empurrava para o Ministério da Saúde e este para o MEC. Acabou virando um problema...

— Isso... e é muito impróprio que isso aconteça porque os hospitais são importantes tanto para a educação quanto para a saúde. Para a educação é importante porque formamos profissionais da área de saúde a partir desse equipamento.

— Como seria esse formato?

— A proposta da Andifes (Associação Nacional dos dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior) já aprovada pelo pleno, que é o colegiado de reitores, e pelo fórum de diretores dos hospitais, proposta essa que foi encampada pelo Ministério da Educação, que já levou ao presidente esse posicionamento. É uma proposta de partilha meio a meio, ou seja, é igualmente importante para os dois ministérios, então a área da educação e a área da saúde têm que entrar à razão de um para um.

— A partilha é por recursos e não por atividade?

— Não, hoje é assim e recai sobre o MEC 68% do custo, quer dizer, os hospitais estão prestando um serviço e estão recebendo um terço do custo do serviço. Agora, por que isso acontece, o que se passa nos hospitais? O equilíbrio do hospital privado, hoje, reserva 40% dos leitos para convênios privados e isso não está na alçada dos hospitais públicos, os hospitais públicos são 100 por cento SUS. É isso que gera o desequilíbrio e é por isso que tem que haver uma regra de partilha, sobretudo, nos hospitais federais. Nosso compromisso é com o SUS e tem que continuar sendo com o SUS, a porta única. Agora, se a perspectiva é essa, temos que levar em consideração a especificidade do hospital público federal. Ele não tem à sua disposição 40 por cento dos leitos para conveniar; se ele não tem, tem que receber um tratamento diferenciado para que seu equilíbrio econômico-financeiro esteja assegurado. Esse debate transcorreu por quase dois anos, foi feito todo um mapeamento da gestão dos hospitais, estamos introduzindo na gestão hospitalar a informatização plena dos procedimentos com auditoria, controle, num modelo muito parecido com a da CPA (de Porto Alegre) que ofereceu seu módulo para ser traduzido para o hospital e disseminado por todos os 45 outros hospitais universitários. Então, estamos num movimento de atuar fortemente na gestão, mas fixar uma regra de partilha que seja adequada para sustentar os hospitais, aliás essa proposta também ganhou acolhida do TCU, que no seu último acórdão faz menção específica à necessidade do estabelecimento de uma regra de partilha.

— O Ministério da Saúde topa isso?

— Olha, quem tem que topar é o Presidente da República, que toma posicionamento quando há divergências entre duas áreas. Eu entendo e há uma compreensão do Ministério da Saúde de que os hospitais não podem continuar como estão.

— Na ponta do lápis é quanto esse dinheiro meio a meio?

— Isso pode representar algo entre R$ 300 milhões a mais para o Ministério da Saúde, só que nós temos que pensar do ponto de vista da reestruturação dos hospitais, não simplesmente tapar um buraco emergencial agora e não pensar a estrutura dos hospitais. Da nossa perspectiva, o MEC vai ter mais interesse ainda do que já tem em investir nos hospitais, porque sabe que haverá uma contrapartida à razão de um para um. Até porque a assistência à saúde não pode ser financiada por recursos da manutenção e desenvolvimento do ensino. A Constituição Federal impede isso. A partir do momento em que você tem a regra de partilha, adequada e chancelada pelo TCU, cria-se um ambiente institucional favorável.

— O que está faltando então?

— Está faltando uma reunião conclusiva, que será na segunda-feira (18), em que as posições vão estar muito bem estabelecidas ali para uma decisão final disso.

— Não têm coisas que vão acabar sobrando?

— Estou falando de coisas emergenciais. Agora vou falar das questões estruturais. Eu entendo que o PDE (Plano de Desenvolvimento da Educação) dê conta de uma gama enorme de programas da educação brasileira muito positivamente. Nós criamos no Brasil, talvez, o que podemos chamar de melhor sistema de avaliação educacional do mundo. Temos uma avaliação que atua sobre o ensino fundamental, o ensino médio, a graduação e a pós-graduação. Eu não tenho referência de outro país que tenha criado um sistema de avaliação tão robusto quanto o nosso. Mais do que isso, nós não só atuamos sobre todos os níveis e etapas do ensino, nós atuamos em cada estabelecimento de ensino. Cada escola e cada instituição de ensino superior têm um indicador de qualidade. Fixamos metas de qualidade. Isso chama a atenção do mundo, o MEC é convidado a apresentar esse modelo em fóruns internacionais, tem grande repercussão. Então no campo da avaliação o Brasil andou muito, sobretudo ao fixar metas. E mais do que isso, cumprir. Estamos cumprindo as metas. Lembro-me de que desde que o sistema de avaliação foi criado a qualidade só caiu até 2003, a partir dali houve uma inflexão, sobretudo, a partir de 2005. Então, nós estamos vivendo um momento em que o Brasil amplia o atendimento, em todas as faixas etárias até 17 anos, a proporção de crianças e jovens da creche ao ensino médio está sendo ampliada com melhoria da qualidade, porque o que acontecia no passado era uma ampliação do atendimento às expensas da qualidade. A quantidade aumentava e a qualidade caia. Estamos vivendo um movimento inverso agora, a quantidade aumenta e a qualidade acompanha. Isso é novo no país e eu atribuo isso muito à questão da fixação de metas da qualidade porque isso organiza o trabalho da escola. Quando você estipula uma matriz de referência do exame de avaliação, dá a público essa matriz de referência, os professores são sensibilizados para saber exatamente o que vai se cobrar, porque eles desconheciam esses mecanismos, até porque era amostral, nem sabia muito o que era pedido no Saeb. Hoje a Prova Brasil é aplicada em cada escola, o professor recebe na sua escola a matriz de referência, que está disponível na página do Inep. Então, ele toma conhecimento daquilo que o poder público entende que é o currículo do ensino fundamental. Os programas de formação de professores também são adequados a essa mesma matriz, porque não adianta nada você formar os professores com um processo dissociado da elaboração da matriz. Quando você combina isso tudo, você dá um norte para a escola.

— Mas isso está acontecendo, a roda está girando e vai caminhar. O que falta fazer?

— Isso é uma coisa, a outra é a expansão da educação superior do país, tanto pública quanto privada. Saímos de 2 milhões de universitários em 1997 para 6 milhões de universitários na última Pnad (Pesquisa Nacional pro Amostra de Domicílios). Na educação profissional, dobramos o número de matrículas nos cursos técnicos do país. Ainda que o número seja insuficiente para nossas necessidades, saímos de 500 mil matrículas para 1 milhão num período de seis anos. Tanto na básica, quanto na superior e profissional, a reforma do Sistema S vai contribuir para ampliar ainda mais. O Brasil Profissionalizado coordenou com os estados para a reestruturação do ensino médio, com R$ 1,3 bilhão. A nossa meta era de R$ 900 milhões, superamos em R$ 400 milhões a meta do Brasil Profissionalizado. Com a expansão da rede federal de escolas técnicas e das universidades, temos um cenário de ampliação das oportunidades que começa na creche com o Pró-Infância e vai até a pós-graduação, com a ampliação das bolsas da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), com o Prêmio Nacional de Pós-Graduação. Temos que atuar sobre mais três questões, que precisam de uma turbinada. Uma discussão mais séria sobre o ensino de zero a três anos; nós dobramos o atendimento em creches e em oito anos chegaremos a um percentual de 21 a 22 por cento de atendimento, contra 11 por cento em 2002, mas precisamos fazer uma discussão envolvendo uma ação interministerial. Temos a experiência do SUS, temos o Bolsa Família e temos o atendimento educacional em creches e deveríamos potencializar esses programas por meio de uma articulação. Entendo que eles têm um potencial de assistência, amparo e de desenvolvimento da criança que pode ser mais bem explorado. Da mesma forma como foi feito o Bolsa Família, reunindo os programas de transferência de renda e potencializando, do mesmo jeito que o Pró-Jovem procura reunir programas de orientações para a juventude, eu entendo que de zero a 3 anos deva passar pelo mesmo tipo de processo. Temos exemplos de ações mundo afora e experiências locais que permitem vislumbrar uma articulação desses programas.

— Já tem nome?

— Não tem porque cada ministério ainda está trabalhando isoladamente essa questão. Eu acho que o desafio é parar de trabalhar isoladamente e montar uma mesa para discutir como enfrentar o desafio de 0 a 3, uma vez que a ciência já está pacificada em torno dessa questão da importância do desenvolvimento nessa faixa etária para o desenvolvimento futuro da criança e do jovem. Em todos os âmbitos da vida, não é só a questão educacional, a questão da violência, saúde, tudo isso tem um impacto forte.

— O senhor e o governo pretendem lançar isso este ano ainda?

— Não, não estou preocupado com o lançamento até porque vamos ter um momento de discutir isso, que é a Conferencia Nacional de Educação, em abril, e teremos um outro momento importante que é a aprovação e remessa do Plano Nacional de Educação.

— Vai ficar para o próximo governo, então?

— Não. Há ações no MEC, no Ministério da Saúde e no Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome relativas à questão de 0 a 3. Mas, não podemos perder a oportunidade de discutir a integração dessas ações por ocasião da aprovação do Plano Nacional de Educação, que tem vigência decenal. Até porque eu não vejo isso como uma política de governo e sim como uma política de Estado. Isso não pode estar sujeito às intempéries do ciclo político e nem o estado pode parar de trabalhar porque vai ter eleição. Você tem que continuar trabalhando, formulando e o ciclo político tem a sua lógica, que não pode colocar em risco políticas estruturantes. Todas as questões que estou colocando estão em curso, o que eu entendo é que elas têm que ser potencializadas. A segunda questão é a questão do ensino médio. Estamos com 1.500 professores fazendo curso em torno do projeto Ensino Médio Inovador. Temos que aprofundar a discussão sobre a diversificação do ensino médio, e aí o novo Enem entra como uma peça central porque ele tira a camisa de força que os vestibulares impõem sobre o ensino médio. Estão em curso essas transformações, mas certamente vão ocupar a agenda. E a terceira, que também teve avanços importantes mas exige mais metas, estabelecer princípios, é a questão da valorização do magistério. Como estamos vendo isso? Temos hoje um número até expressivo de licenciandos, é verdade que em áreas específicas não, em Física talvez o número seja pequeno, mas no conjunto das licenciaturas, temos 1,5 milhão de matriculas, é muita coisa. O que precisamos garantir? Qualidade da formação. E duas providências tomadas pelo governo são essenciais para isso. A primeira é a expansão das licenciaturas em instituições públicas, e a segunda a aprovação do novo Fies (Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior), que vai permitir que o jovem educacionado para o magistério possa fazer sua licenciatura numa instituição particular de boa qualidade sem pagar o financiamento, desde que atue em escola publica, ou seja, 100 meses de exercício profissional quita sua dívida. Com a sanção do novo Fies, nós vamos de certa maneira garantir a gratuidade da formação inicial de todos os professores do país. A formação passa a ser uma questão de estado, com financiamento público, seja na universidade pública ou particular. Na verdade o jovem não paga o financiamento, ele quita com o exercício profissional sem nenhum dispêndio. O salário fica para ele. Essa medida vai nos permitir que, dos matriculados em licenciatura, financiemos os melhores profissionais para atuar na escola pública. Isso, combinado com o piso e com as diretrizes de carreira, certamente vai ter um impacto sobre a profissão. Agora, temos que continuar um movimento importante, que é a segunda parte do raciocínio. Em 2003, um profissional de nível superior ganhava 86% a mais que o docente de nível superior, todas as profissões ganhavam 86% a mais que um docente; esse percentual caiu para 52% em 2008, antes da entrada em vigor do piso. Na minha opinião, deveríamos fixar uma meta para equalizar isso. De maneira que não houvesse custo de oportunidade de escolher o magistério. Temos um mecanismo hoje que permite ajustar isso em menos de 10 anos. O aporte de recursos da União para o Fundef (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério) foi de R$ 500 milhões durante os 10 anos de vigência; este ano é de R$ 7 bilhões, quer dizer, qual é o valor que tem que ser aportado para que seja possível pagar o piso? Se multiplicar por 14 ainda não foi suficiente, qual é esse valor?

— E dinheiro, tem?

— Tudo é uma questão de prioridade. A valorização do professor não é vista como coisa que rende dividendos políticos imediatamente, isso vai impactar a qualidade da educação em cinco, dez, 20 anos. Perto de um investimento que rende votos de “n” cidadãos, na comparação perde. Por isso, tem que ser uma política de estado, tem que ser uma decisão do país. Perdemos todo o século 20 sem investir em educação. Felizmente começamos a investir. O investimento do MEC saltou de R$ 20 bilhões para R$ 50 bilhões. Uma vez e meia a mais. Isso está nos permitindo apoiar estados e municípios. A maior parcela dos recursos está indo para eles. O Reuni (Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais) é R$ 2,5 bilhões desses adicionais. A expansão das escolas técnicas é R$ 1 bilhão a mais.

— Existem duas coisas que parece que não avançaram: a educação no campo e o analfabetismo. Desistimos de erradicar o analfabetismo no país?

— Não, não houve desistência até porque o volume de recursos investidos aumentou. Em segundo lugar, o número de inscritos no Programa Brasil Alfabetizado também aumentou. Há uma questão metodológica de medição disso. A última Pnad nos causou estranheza porque aumentou o número absoluto e o número relativo de analfabetos no Sudeste, por isso a taxa nacional caiu só 0,1%. Eu não vejo razão para isso ter acontecido. O que ocorreu no Sudeste? Como o número de analfabetos aumentou, e pior, na faixa etária de 25 anos? A hipótese é que houve alguma mudança metodológica que não está sendo explicitada. Por que no Sudeste isso aconteceu? Eu não sei compreender o dado. Já confessei isso.

— Isso faz tanta diferença?

— Isso faz muita diferença porque a taxa tem que cair no país todo. Quando você vai por outra metodologia, faço referência ao trabalho feito pela Fundação Montenegro junto com a Ação Educativa, ali é uma outra metodologia, nem amostral como a Pnad do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), é aplicado um teste de proficiência, um TRI, comparável no tempo, que a taxa caiu de 11% para 7%. Esse teste é uma amostra melhor. É um teste aplicado, e aí a taxa de 2002 para 2009 caiu de 11% para 7%, que é uma redução muito expressiva na faixa etária de 15 a 64 anos. Também a taxa do analfabetismo funcional caiu, pela mesma metodologia, e a proficiência básica, que é considerada satisfatória, aumentou. Então caiu o numero de analfabetos absolutos, analfabetos funcionais e aumentou a taxa de brasileiros com proficiência básica. Essa metodologia implica a aplicação de um teste; você mede a proficiência e não simplesmente pergunta para o cidadão se ele sabe ou não ler e escrever, você testa se ele sabe ler. E, nesse caso, o teste dá maior fidedignidade para esse dado. Nós estamos ainda explorando o plano amostral da Pnad para compreender o que aconteceu de fato.

— O Brasil Alfabetizado continua?

— Continua. Sem limite orçamentário, por determinação do Presidente, ou seja, o número de turmas criadas no país recebe o financiamento do MEC e se precisar de suplementação orçamentária nós damos garantia aos estados e municípios que faremos.

— E sobre a educação no campo?

— No campo, há alguns programas que estão funcionando bem. Por exemplo, o transporte escolar, que ainda está longe do ideal, mas na comparação com o passado a evolução é grande. Nós já substituímos 6 mil veículos escolares por veículos padronizados pelo Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial), vamos substituir ao longo do tempo toda a frota, levaremos aí de 7 a 8 anos para substituir toda a frota. O Pnate (Programa Nacional de Apoio ao Transporte do Escolar), que é um programa novo deste governo, está pagando per capta R$ 0,60 por dia letivo para os estudantes, a título de subsídio de transporte escolar. O Proinfo (Programa Nacional de Informática na Educação), que é de inclusão digital, que nunca chegou ao campo, já chega ao campo. Nós estamos instalando laboratórios em todas as escolas rurais, e o Ministério das Comunicações está instalando a banda larga e nós temos um programa de capacitação de professores de escolas multisseriadas, pela expansão do programa Escola Ativa, que foi reformulado e expandido. Então, estamos atuando no campo. O per capta do Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação) também foi alterado a favor do campo, a matrícula do campo tem uma remuneração maior, são ações que estão chegando pela primeira vez ao campo.

— Porque não há um avanço tão grande quanto no urbano?

— Em primeiro lugar, fixar um professor no campo é difícil, a formação continuada do professor no campo é muito mais complexa do que a do professor da cidade. Mesmo com a instalação dos 500 polos da universidade aberta, ainda as distâncias a percorrer pelo professor são grandes. O MEC está em mais de mil municípios, entre universidades, institutos federais e polos da universidade aberta; vamos atingir até o final de 2010 alguma coisa em torno de 1 mil municípios, mas ainda assim os deslocamentos que o professor tem que fazer para chegar a um polo de formação num país dessas dimensões é grande. São 90 mil escolas no campo, algumas com cinco a dez alunos. Então tem uma dificuldade logística de chegar, por isso esses programas de apoio, que a alguns podem parecer perfumaria, programas para melhorar o transporte escolar, fazer a inclusão digital chegar ao campo, são tão importantes, porque você pode a partir deles permitir uma maior mobilidade do professor, maior acesso do professor ao mundo virtual, ao conhecimento e, portanto, facilitar os mecanismos de aperfeiçoamento do seu trabalho.

— Cotas ficaram para o futuro?

— Infelizmente o projeto menos discutido nos últimos anos é o projeto do executivo, porque a questão ficou polarizada em cotas raciais ou não. E o projeto do executivo, que é aquele que vale para o ProUni, é um projeto que procurou uma mediação entre esses dois pontos de vista extremados. Um que nega a questão racial histórica, a escravidão, e um que diz que só isso conta num país complexo como o Brasil. A posição que o governo assumiu, junto com a Seppir (Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial), não é uma posição só do MEC, é intermediário, nós entendemos que a cota social é o mais adequado e que a distribuição dessas vagas a estudantes de escolas públicas deve ser feita proporcionalmente segundo o censo. É o que vale para o ProUni e está funcionando bem sem nenhum dos atropelos das previsões apocalípticas de alguns, de que isso geraria conflitos raciais, e que promoveu uma mediação, na minha opinião, bastante adequada do problema. Em 2004, o Congresso entendeu essa solução como adequada ao ProUni e não manteve a mesma solução para as universidades públicas.

— O senhor acha que é melhor como está hoje, que cada universidade vai adotando seu critério?

— Isso também tem seu curso natural, porque as universidades não estão paradas, elas estão elaborando seus projetos, o que também é uma possibilidade de desenvolvimento no âmbito da autonomia universitária, e que elas exercitem políticas afirmativas das mais variadas.

— O governo comprou os laptops para distribuição, isso vai ficar dessa forma ou tem previsão este ano de aumentar a escala?


— Não, não há previsão orçamentária pra manter a ação este ano. Estamos fazendo com toda a cautela este programa.

— O senhor não é mais entusiasta desse programa?

— Sou mais hoje do que fui no passado. Porque a discussão começou muito focada no equipamento e o país amadureceu, até porque os projetos-piloto foram mostrando que mais importante do que o equipamento é todo um ambiente a ser trabalhado na interação do professor com o aluno, dos alunos entre si, de como operacionalizar essa mudança de conceito na sala de aula e na escola; do ponto de vista pedagógico houve um amadurecimento que me dá mais entusiasmo hoje do que há dois ou três anos. Esse atraso que foi determinado pela conjuntura, recursos, impugnações na licitação, uma serie de especificidades do equipamento, que não está na prateleira, não é um equipamento que você encontra na loja, é um equipamento que foi moldado para a escola, em virtude disso houve muitos atropelos no processo, mas, na minha opinião, benéfico, porque nesse processo de superação dos obstáculos formais nós acabamos tendo tempo necessário para amadurecer um projeto pedagógico mais adequado para a reutilização de um equipamento que não é tão barato quanto se supunha.

— A CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação) divulgou uma nota contestando a AGU sobre o reajuste do piso; diz que o piso já teria que ter sido reajustado em 2009 e que agora o reajuste de 2010 deveria ter sido maior, comparado com a projeção para 2010.

— O que o MEC fez, projetado pelos parceiros, secretários municipais e estaduais, foi cumprir com o nosso dever, de encaminhar a consulta à AGU, para que a AGU se posicionasse em relação à interpretação que a União dá ao dispositivo que garante o reajuste, que é uma lei federal auto-aplicável. Teoricamente a AGU não precisaria se manifestar sobre o assunto, porque caberia aos governadores interpretar o dispositivo e aplicar o dispositivo que poderia não ser contestado pelos trabalhadores, então o que a AGU fez foi isso, provocada pelo MEC, colocou sua opinião, que não é vinculante. O que ela fez foi dizer: “se nós fomos chamados a falar num processo judicial nós daremos essa interpretação que nos parece a maneira adequada”. É isso que a AGU fez. Mas isso não significa que a opinião da AGU seja vinculante nem para governadores nem para prefeitos.


— O senhor prefere não comentar esse ponto de que o reajuste já deveria ter sido dado em 2009?

— Até por dever funcional eu tenho que seguir a orientação da AGU, eu não tenho a discricionariedade sobre isso. Agora se você me perguntar se esse piso é adequado eu já respondo. Eu entendo que há uma defasagem de pelo menos 50%, que tem que ser superada. Docente não pode ganhar em media 30% menos do que não docente, temos que aumentar o salário dos docentes em 50% em média, para que essa equiparação seja possível e não inviável. A questão da falta de recursos, eu insisto, é uma questão de prioridade. Se nós quisermos colocar a educação entre as prioridades nacionais e, na minha opinião, isso é incontornável, temos que ter uma política deliberada de valorização do magistério, que passa pelo novo Fies (Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior), expansão das licenciaturas em instituições públicas, e que passa pelo piso salarial e acesso à formação. Hoje todo professor em exercício tem acesso à universidade, se não tiver ensino superior. Hoje todas as universidades estão mobilizadas para acolher o professor que não tem diploma de nível superior para formá-los. Se nós estamos atuando na questão da formação, temos que atuar na questão da remuneração, combinando essas duas, e o coroamento disso é o Exame Nacional de Admissão. Em maio do ano passado eu determinei ao Inep a elaboração de uma matriz de referência para auxiliar os entes federados na questão dos concursos públicos. A matriz deve ficar pronta em janeiro e aí vamos sentar com o Consed (Conselho Nacional dos Secretários de Educação) e Undime (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação) para verificar se a matriz está adequada. Esse exame funciona da seguinte maneira: os licenciandos no final do curso fazem o exame, a partir daí você tem uma nota desses professores no exame. Então o prefeito pode aderir ao banco para selecionar professores, abre as inscrições para quem tem nota e o prefeito se compromete a chamar pela ordem. Nossa tarefa imediata é criar a matriz, com o que é que se entende por um bom professor, o que ele deve saber? Criada a matriz aplica-se o exame.

— Quando o senhor vai realizar o primeiro exame?

— No fim deste ano. Porque os prefeitos e governadores em geral contratam no inicio do ano letivo, agora não adianta porque não vai haver tempo para contratarem antes do inicio das aulas. O que se verifica é que nós precisamos dizer para o país o que um bom professor tem que saber para atuar adequadamente em sala de aula. Para um município muito pequeno é difícil elaborar um concurso público, não é simples. O que os estudos mostram é que os concursos não fazem perguntas relevantes para a seleção de um professor. Se tivermos uma matriz de referência que responda a essa pergunta e subsidie esse processo de seleção, combinando com formação e remuneração, você cria um modelo brasileiro de valorização do magistério.

— O senhor fica só até abril ou vai até o fim do governo?

— Fico até o fim do governo, uma decisão tomada.

— Dilma vai participar da inauguração de escolas do MEC?

— Até abril ela pode, depois não pode. Ela não tem participado das inaugurações do MEC, Brasil afora, a não ser quando a solenidade é no Palácio do Planalto.

— O senhor não pensa em convidá-la para participar das inaugurações?

— A ministra Dilma é sempre bem-vinda, porque se não fosse a Casa Civil, o Planejamento e a Fazenda, o nosso orçamento não teria saltado de R$ 20 bilhões para R$ 50 bilhões. Esses ministros incluíram na agenda do país a educação e isso está expresso na peça orçamentária. Você julga a prioridade dos governantes a partir da taxa orçamentária, que é composta por esses três ministérios, sob a liderança do Presidente Lula. O êxito que tivemos no financiamento é dependente da compreensão dos ministérios-meio, de que educação faz parte da linha de desenvolvimento. Sem o PAC da ciência e tecnologia, sem o PAC da educação, você pode até ter crescimento econômico, mas desenvolvimento econômico sustentável depende de um tripé que foi estabelecido no discurso de posse do Presidente do segundo mandato: crescimento, distribuição de renda e educação de qualidade.

— Essas agendas que o senhor citou da educação vão estar no programa de governo da candidata?

— Estarão de alguma maneira na plataforma dos candidatos em geral. Temos que aprofundar essa agenda que completa um ciclo importante, que teve inicio com a Constituição Federal de 1988. Finalizo fazendo referência ao passo importante que o Congresso deu à emenda 59, ao estender a obrigatoriedade do ensino para quatro a 17 anos, o fim da DRU, estabelecer metas de investimento público com a proporção do PIB, estender todos os programas de apoio para a educação básica no seu conjunto. São medidas estruturantes da educação. Se for olhar a história, agora o Brasil supera definitivamente o gargalo que tem sobre a formação da sua gente, ou nós vamos mais uma vez esbarrar neste que talvez seja o maior obstáculo ao nosso desenvolvimento sustentável.