terça-feira, 29 de junho de 2010

MAPA DO BRINCAR


 Pessoal,

Ontem à noite, através de uma colega da área de educação, tive a oportunidade de conhecer um site muito legal - Mapa do brincar - cuja temática principal são as brincadeiras infantis.
Na verdade, não se trata somente de mais um site sobre brincadeiras infantis, mas de um belíssimo projeto, cuja iniciativa é da *Folhinha de São Paulo.
Existente desde de maio de 2009, o projeto contou com a colaboração de várias crianças de todo o país. Estas foram convidadas a contar quais são suas brincadeiras de hoje, pois um dos dos principais objetivos do projeto era descobrir se há semelhanças e diferenças entre o brincar das cinco regiões do Brasil.
Mais de 10.000 crianças, de todas as regiões do país, mandaram suas contribuições. As crianças das regiões Sul e Sudeste tiveram uma representação  mais relevante que as demais regiões.
Após todo processo de análise do que foi recebido e coletado junto às crianças, o site conseguiu catalogar, entre textos, desenhos, fotos e vídeos, cerca de 550 brincadeiras.
É claro que essa história não termina por aí, afinal, com toda sua extensão territorial, com certeza, tem muito mais brincadeiras a serem descobertas e socializadas. Se você conhece alguma ou até a variação daquelas que já foram citadas é só encaminhar as informações sobre a mesma para o e-mail mapadobrincar@uol.com.br.
Agora, que tal entrar no site e conferer na íntegra esse belíssimo projeto.


Boa visita!

*Folhinha de São Paulo - suplemento infantil do jornal Folha de São Paulo

sábado, 26 de junho de 2010

MEC PUBLICA INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO DOS CURSOS DE PEDAGOGIA


Foi publicada nessa segunda-feira (21) a portaria do Ministério da Educação que institui o instrumento de avaliação dos cursos de pedagogia. O documento apresenta os aspectos que serão considerados pelos avaliadores do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep) nos processos de reconhecimento dos cursos.

A definição de um instrumento próprio para os cursos de pedagogia é mais uma ação do MEC no campo da formação de professores. Ele contribui para consolidar as Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Pedagogia e afirma o lugar que a qualificação dos professores da educação infantil e dos anos iniciais do ensino fundamental deve assumir nesses cursos.
O instrumento define os critérios de qualidade que devem ser alcançados pelos cursos para que tenham o reconhecimento do MEC. Os critérios de avaliação são organizados a partir de três fatores: organização didático-pedagógica do curso, corpo docente e instalações físicas.
Em relação à organização didático-pedagógica, serão considerados aspectos como o processo de avaliação da aprendizagem, a integração do aluno à prática educativa e a relação do curso com os sistemas públicos de ensino municipais e estaduais.
No quesito corpo docente, além de considerar a titulação dos professores, o instrumento também apresenta como critério a ser avaliado a composição e atuação do Núcleo Docente Estruturante, grupo de professores da instituição responsável pela implementação das diretrizes curriculares do curso.
Além de pedagogia, medicina, direito e os cursos superiores de tecnologia possuem instrumentos específicos de avaliação.


Fonte: MEC

quarta-feira, 23 de junho de 2010

QUANTO VALE O TEMPO


COM A INCORPORAÇÃO DOS RECURSOS TECNOLÓGICOS, A ATIVIDADE DOCENTE ENFRENTA O DEBATE SOBRE COMO MESURAR O PERÍODO GASTO NAS ATIVIDADES EXTRACLASSE E DÚVIDAS QUANTO AO NOVO PERFIL DESSES PROFISSIONAIS

Atualizar blogs, disponibilizar o conteúdo na internet e responder e-mails são tarefas que passam a fazer parte da rotina do professor. O tempo que era antes dedicado à preparação das aulas e correção de provas teve de ser dividido com a demanda dos mecanismos digitais como fóruns, plataformas on-line e redes sociais (Twiter, Facebook, Orkut e blogs). No entanto, as mudanças impulsionadas pelos avanços tecnológicos esbarram em uma questão que contrapõe o interesse de docentes e instituições de ensino: A REMUNERAÇÃO.
O problema central nesse contexto é mensurar o tempo gasto com as novas ferramentas. "A tecnologia faz parte do cotidiano das aulas. O novo cenário exige alteração na contratação dos docentes", defende Fábio Reis, diretor do Centro Universitário Salesiano de São Paulo (UNISAL).
Por outro lado, quaisquer mudanças, na rotina de trabalho, de qualquer profissional., geram resistência. A coordenadora de pesquisas da divisão de tecnologia educacional da Positivo Informática, Betina Von Staa, lembra que nesse período de introdução das tecnologias, no ensino superior, iniciado há alguns anos, foi marcado pela reação aos novos métodos. "As pessoas levam um determinado tempo para aprender a lidar com o novo". Nessa época aparentava que o trabalho tinha triplicado, diz
Hoje, essa impressão começa a se dissipar, mas especialistas alertam que a fase ainda é de transição. "Alguns professores entendem a necessidade do aluno. Outros ainda estão se preparando ou usam os recursos de forma errada", reflete Erwin Alexander Uhlman, professor do curso de ciência da computação da Universidade Guarulhos (UnG).
Em meio à adaptação de ambas às partes, tanto das instituições quanto dos docentes, a discussão sofre as novas características, e de como incorporá-las, preservando as relações trabalhistas, ganha força.
Para Fábio Reis, o modelo de remuneração por hora-aula, por exemplo, não deve sobreviver. "É preciso apostar em novas alternativas, como num contrato por um conjunto de tarefas", exemplifica. E complementa." Esse modelo pede um novo perfil das instituições, se ficará difícil controlar o tempo de trabalho, por que não verificar os resultados alcançados em determinado período? Esse é o grande desafio, acredita".
No caso da educação básica, a convenção coletiva da categoria, assinada em maio deste ano, prevê o início das discussões sobre o pagamento do tempo dedicado ao trabalho tecnológico. Os debates devem ocorrer no âmbito intersindical e a expectativa é de que a regulamentação entre em vigor a partir de 2011. "A questão é importante e deve ser colocada em pauta entre os profissionais da área. Reuniões são válidas e ajudam a traçar um novo perfil da educação superior", opina Reis.
Outra dificuldade atual é a adaptação à legislação que permite que 30% das aulas presenciais sejam ministradas a distância. O assunto divide opiniões. "Ficará cada vez mais complicado contabilizar a quantidade de trabalho do docente, já que ele terá de atualizar conteúdos on-line e responder dúvidas com maior frequência. Daí a importância de incluir as atividades tecnológicas no pacote de extras que ele recebe normalmente para a preparação de aulas e correção de provas", defende Francisco Borges, diretor acadêmico da Veris Educacional.
Já Josiane Tonelotto, diretora de desenvolvimento pedagógico da Universidade Anhembi Morumbi, considera que as tarefas relacionadas à tecnologia são importantes para o cotidiano do aprendizado, mas devem ser realizadas dentro do período normal de trabalho sem remuneração extra. "Assim como a capacitação dos docentes, a atualização de blogs e o uso do conteúdo virtual têm de ser incluídos na rotina, com o professor recebendo normalmente pelas horas trabalhadas". Uma forma de evitar desgastes desnecessários é deixar as regras claras no momento da contratação, sugere a coor­denadora de pesquisas da Positivo Informática, Betina von Staa. "Os gestores têm de deixar claro o que esperam dos docentes. Vale especificar o que precisa ser feito em sala de aula e o que deve ser realizado fora dela", ressalta.
No caso de sentir que a instituição de ensino faz exigências que não foram pré-estabelecidas, é fundamental conversar com os coordenadores para definir novos formatos de remuneração ou de atividades a serem desenvolvidas.
E, em meio a esse processo, a maior responsabilidade é das instituições, diz o diretor da Faap, Rubens Fernandes Junior. "Além de pensar numa forma de oferecer remuneração justa aos docentes de acordo com o trabalho desenvolvido, é necessário mostrar que há outras maneiras de ministrar as aulas", alerta.
Com apenas 21 anos, e membro de um programa para integrar docentes veteranos e recém-formados, a professora do curso de relações internacionais da Fundação Armando Álvares Pen­teado (Faap) Fernanda Magnotta vê de perto o conflito de gerações a respeito do uso da tecnologia, e acredita que o trabalho do professor não aumentou a partir do uso de novos recursos. "Ficou mais fácil trabalhar. O tempo é o mesmo que gastaríamos preparando uma aula e com a internet é possível conseguir resultados mais rápidos. Existe o ônus, mas também há um bônus", define.
Para Fernanda, com o uso da tecnologia a relação do educador com o aluno fica mais próxima, o que facilita o desenvolvimento das aulas. "Aquele que se comprometeu a ensinar tem de se fazer presente - e isso é possível com o uso da tecnologia. Se o professor não começar a falar a mesma linguagem, será esquecido. É preciso mostrar que não somos inatingíveis."
Na opinião de Jair Manoel Casquel Junior, coordenador do curso de administração da Faculdade Anhanguera Ribeirão Preto, existe uma opção que fará com que os docentes comecem a classificar a tecnologia de maneira positiva: enxergá-la como uma via de mão dupla. "As novas mídias valorizam o trabalho. São excelentes ferramentas, nas quais vale a pena investir algumas horas do dia. Elas darão visibilidade à carreira do docente", afirma.
Marcos Formiga, professor do curso de engenharia da Universidade de Brasília (UnB) e estudioso das tecnologias aplicadas à educação, é mais enfático. "A atitude dos professores está em plena mudança. Temos de evoluir de acordo com a tecnologia e saber passar esse conteúdo para a nova geração", ressalta. Para ele, os métodos convencionais não satisfazem as exigências atuais. "Não existe mais o termo aprender na exaustão. O aluno está cansado do rigor e do formalismo educacional", diz. O grande desafio, segundo Nilbo Nogueira, mestre em educação pela Universidade de São Paulo (USP), é fazer com que o professor use os recursos tecnológicos em prol do ensino. "Não adianta apenas substituir a lousa por um arquivo de computador. É essencial planejar aulas mais interativas e que despertem o interesse dos alunos, pois eles são nativos digitais."
Do analógico ao digital
A profissão docente não é a primeira a passar por mudanças impulsionadas pela tecnologia. Basta analisar o histórico de outras carreiras para verificar que os novos recursos chegaram para modificar o dia a dia de muitos trabalhadores. Um exemplo é o jornalismo. Com o passar do tempo, os profissionais da comunicação abandonaram de vez as máquinas de escrever para dar início à era digital. Nesse contexto, tiveram de adaptar seus textos à linguagem da internet e reservar mais tempo para atualizar sites e redes sociais.
Outro exemplo de profissional que passou por uma fase brusca de transição foi o fotógrafo, que viu a máquina analógica sair de cena e dar lugar ao modelo digital. Saber lidar com programas de tratamento de imagem também foi fundamental para mantê-lo no mercado de trabalho. No entanto, quando o assunto é construção civil, os profissionais envolvidos - engenheiros, projetistas e arquitetos - precisaram se matricular em cursos que ensinam a lidar com ferramentas digitais para elaboração de projetos. Situação semelhante à dos advogados, que passaram a realizar consultas das leis pela internet e a disponibilizar processos on-line. Na área da saúde, os médicos tiveram de voltar à sala de aula para conhecer mecanismos digitais, novas tecnologias e pesquisas.
O caso da EAD
No caso da EAD, a discussão sobre o trabalho e o tempo docente se torna ainda mais premente. Para Marta de Campos Maia, professora da Fundação Getulio Vargas e conselheira da Associação Brasileira de Ensino a Distância (Abed), não há como negar que o trabalho do professor e do tutor cresceu nos últimos anos. "A sobrecarga é grande, pois o professor começou a lidar com esse sistema há pouco tempo. Mas, ele deve adaptar a metodologia e a forma de enxergar o ensino, se colocar no lugar do aluno e repensar o processo como um todo", afirma.
Por isso, na opinião dela, o docente deveria receber pelo trabalho realizado fora do expediente. "A carga de trabalho é maior, por isso o professor deveria receber uma remuneração mais justa", ressalta.
Além disso, os cursos a distância possuem grande quantidade de alunos, o que exige um tempo maior para o preparo das aulas, atualização do conteúdo e maior disponibilidade para solucionar dúvidas. "Os vínculos empregatícios devem ser discutidos. Não dá mais trabalhar por hora-aula", diz Jair Manoel Casquel Junior, coordenador do curso de administração da Faculdade Anhanguera Ribeirão Preto.
Uma alternativa para enfrentar o novo cenário é optar pela contratação por módulos. "Algumas instituições propõem o pagamento por um trabalho específico. Se o docente for bom, se mantém e conquista seu espaço", diz o coordenador.
No caso dos professores tutores a situação é ainda mais complexa. "É preciso prever uma remuneração específica para esse profissional, que precisa de um estímulo. A universidade deve estipular e acrescer uma porcentagem ao salário do tutor relacionada às atividades que ele realizou fora do horário de trabalho", opina Marta.E também no caso da EAD, a capacitação é a solução. "É mais do que necessário investir em capacitação de tutores e professores. Eles têm de estar aptos a ensinar", ressalta Marta.

Fonte: Revista Ensino Superior

domingo, 13 de junho de 2010

EXPERIÊNCIAS MOSTRAM QUE EDUCAÇÃO INTEGRAL PODE CONTINUAR AVANÇANDO NO BRASIL


Debatedores que estiveram presentes no Colóquio de Educação Integral, realizado na última semana em São Paulo (SP), acreditam que há possibilidades de o Brasil avançar na implementação da educação integral. Projetos desenvolvidos no país retratam condições para o progresso das ações, apesar dos desafios. Em Palmas (TO), um projeto de educação integral começou a ser colocado em prática em 2008. “Na Escola [Municipal] Cora Coralina, colocamos oficineiros no contraturno escolar. As crianças têm aulas de filosofia, dança, xadrez e inglês”, relatou o secretário de educação de Palmas e professor da Universidade Federal do Tocantins (UFT), Danilo de Melo Souza. No regime de contraturno, enquanto metade dos alunos está em sala de aula cursando as disciplinas da grade curricular, a outra metade desenvolve outras tarefas. Os alunos da Cora Coralina permanecem em atividades educativas em média 9 horas e meia por dia. “O custo anual por cada criança do ensino fundamental é de R$ 1985. Agora, a educação infantil é o nosso principal problema, porque é mais cara”, revelou o secretário.Nesse sentido, pensar na sustentabilidade é fundamental. Segundo Souza, em alguns casos, reestruturar a rede educacional, com a ampliação de vagas, a redução com os gastos indiretos das secretarias e a melhora do gerenciamento dos recursos do transporte e merenda resultam em economia suficiente para ser aplicada no aumento da jornada escolar. “Uma de nossas escolas na zona rural gastava R$ 5 mil apenas em transporte, porque tinha que fazer quatro viagens. Agora, com as crianças em tempo integral, o ônibus faz apenas duas”, completa.Em ano de eleição, o ex-secretário municipal de educação de Nova Iguaçu (RJ), Jaílson de Souza Silva, se mostrou preocupado com a continuidade no processo de implementação da educação integral. “Como garantir um plano de política pública com mudança de gestão? Em Nova Iguaçu, a experiência da educação integral estava ocorrendo bem, mas há dificuldades político-partidárias também”.O Programa Mais Educação, uma das ações do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), criado em 2008, tem como objetivo garantir políticas sociais em curso no Brasil para aumentar a oferta educativa no ensino público. No entanto, a integrante do Centro de Estudos em Educação, Cultura e Ação Comunitárias (Cenpec) Raquel Souza pontuou que “os desafios de gestão são tão complexos quanto a implementação da educação integral. É preciso pensar em cada cenário do país que é muito diverso”. Responsável pela área do monitoramento de políticas públicas do Cenpec, Raquel acredita que “as atuais experiências de educação integral acontecem no campo da experimentação, com mecanismos de avaliação, monitoramento e implantação novos”.O secretário municipal de educação de Belo Horizonte (MG), Macaé Evaristo, ressaltou a importância da destinação dos recursos financeiros. “A educação integral traz um novo olhar para as cidades, mas o governo precisa investir mais. A ideia de democratizar os espaços públicos está inserida nesse pensamento de educação cultural e integral. Na capital mineira, onde não há clubes públicos, uma criança da periferia não pode nadar, enquanto clubes privados estão ociosos de segunda a sexta-feira”.Tramita na Câmara dos Deputados um projeto de emenda constitucional cujo objetivo é implantar a obrigatoriedade do ensino integral na escola básica brasileira. O autor da emenda, deputado Alcenir Guerra (DEM), partiu da experiência em educação integral da cidade de Pato Branco (PR) e outros municípios brasileiros.

Fonte: Portal Aprendiz

quarta-feira, 9 de junho de 2010

SECRETÁRIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA DO MEC FALA SOBRE A ESCOLA CONTEMPORÂNEA, O PLANO DO GOVERNO E OS DESAFIOS DO ENSINO MÉDIO, ENTRE OUTROS TEMAS



Na definição de Maria do Pilar Lacerda, secretária de Educação Básica do Ministério da Educação (SEB/MEC), tratar a informação de forma crítica é a grande missão da escola nos dias de hoje. Diferentemente do que ocorria nos anos 60 e 70, quando a própria instituição escolar era a fonte dessa informação para os jovens, hoje ela tem de ajudá-los a refletir sobre a origem, a forma e os significados de informações que transbordam de variados meios e fontes, inicialmente indistintos em termos de valor.
Professora de história da Educação Básica, ex-secretária de Educação de Belo Horizonte e ex-presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), Maria do Pilar defende o Plano de Desenvolvimento da Educação, lançado quando assumiu o cargo na SEB, há três anos, por vê-lo como flexível e articulador de todos os níveis de ensino. E prega uma prática docente que se construa a partir do conhecimento da realidade do aluno. Leia, a seguir, a entrevista concedida ao editor .

Quando a senhora assumiu, o então recém-lançado Plano de Desenvolvimento de Educação tinha grande espaço nos meios de comunicação, espaço este que não se manteve. O PDE ficou muito identificado com os resultados do Ideb?

O PDE tem uma grande vitrine quando fala do Ideb. Mas as ações que vieram a partir desse diagnóstico são aquelas que direcionam e organizam nosso trabalho. A visibilidade dele se dá através dessas ações. ProInfância, Plano Nacional de Formação de Professores, Caminho da Escola são ações que vêm a partir da identificação dos pontos fracos, das fragilidades. E o PDE não é um plano engessado. Ele nos possibilita repensar, refazer, pensar coisas novas. Pode ser avaliado e melhorado. É o plano executivo do Plano Nacional de Educação (PNE), que traçou metas, estabeleceu objetivos, mas esqueceu o principal, que é dizer como fazer para atingi-las. O PDE é a possibilidade de alcançá-las, ou de tentar alcançá-las por meio de políticas públicas concretas e referenciadas. O PDE organizou nosso trabalho, ao mesmo tempo em que trouxe flexibilidade e possibilidade de melhorar, de transformar, de avaliar.

Qual rumo foi mudado em função da experiência e do monitoramento nesses três anos?

Vou falar do ensino médio. Tínhamos um diagnóstico, através dos dados de evasão, aprovação, conclusão, de que o ensino médio talvez fosse o elo mais fraco da educação. E estratégico, porque é a ligação entre Educação Básica e superior. Essa identificação tomou outro rumo quando começamos a fazer a discussão do novo Enem. Se essa discussão tivesse ficado restrita apenas no acesso ao ensino superior, nos teríamos limitado a pensar em um novo vestibular. Quando o ministro criou o Comitê Gestor do Novo Enem, deu um foco muito grande à Educação Básica e ao ensino médio, fez dele a possibilidade de o ensino médio flexibilizar o seu currículo. Enquanto o vestibular existir na forma atual - conteudista, cobrando um nível de memorização muito grande - o ensino médio não conseguirá mudar. A partir dessa discussão, começamos a pensar o Ensino Médio Inovador. Isso ocorreu no final de 2008, início de 2009, quase dois anos depois de o PDE ser lançado. Foi o desenho do Plano que possibilitou isso.

O MEC tem defendido a ideia de interdisciplinaridade.

Como a senhora vislumbra isso do ponto de vista da organização curricular e da formação docente?

Há quem defenda uma divisão por áreas e a formação de generalistas para essas áreas...Não queremos acabar com as disciplinas, isso tem de ficar claro. Não temos ainda um acúmulo suficiente tanto na formação de professores como na discussão curricular para chegar a esse ponto. Por outro lado, é muito difícil que o jovem de 15 a 17 anos tenha um aprofundamento da aprendizagem com 12, 13 ou 14 disciplinas no currículo. A saída, além da interdisciplinaridade, é a flexibilização do currículo. Há quatro pontos do Ensino Médio Inovador que são estruturantes do projeto. O primeiro é o foco na leitura, o que significa ter políticas concretas para que o aluno tenha ao menos 20% da sua carga horária dedicada a atividades de leitura. Logo, a escola tem de ter uma boa biblioteca, um acervo bom de filmes, levar o jovem a teatros, exposições - pois estamos falando de todas as leituras. Isso tem implicação no currículo, porque se passa a pensar as aulas de matemática, de história, de física com esse foco, não é uma atividade apenas para o professor de português. Outro ponto é que 20% da carga horária, ou 200 horas/ano, deve ser composta por disciplinas eletivas, atividades que ele define a partir do que a escola ofereça. Em algumas escolas, por exemplo, o professor de história vai trabalhar também com teatro, assim a escola não precisa contratar muitos outros professores. Isso está começando nas escolas agora, desde fevereiro, nos 18 estados e nas 340 escolas que aderiram neste ano.

E os outros dois pontos?

A carga horária passa de 800 para mil horas anuais. Isso significa passar de quatro para cinco horas por dia. Ainda é pouco, mas não queríamos fazer um modelo que inviabilizasse isso nas escolas. Se fossem sete horas por dia, por exemplo, significaria que o outro turno não poderia ter aula. Se o aluno ficasse das 7h às 14h, não haveria turno da tarde. Então, a carga horária passa a ser de 3 mil horas no ensino médio, com mil horas por ano. O quarto ponto é a dedicação exclusiva do professor, com 40 horas semanais, numa única escola. Esse é o ponto mais difícil de ser atingido por todos os sistemas e escolas. Mas colocamos como um fator norteador. Por quê? Porque o professor tem de trabalhar com um sistema de tutoria para os alunos. Essa é uma grande diferença. Você não precisa ser tutor de 400 alunos, mas pode ser tutor de 20 alunos. Ele tem de ter um momento para conversar com o aluno, fazer o acompanhamento de suas dificuldades, da sua relação com os outros alunos, dos seus dilemas de adolescente - e nós sabemos como eles foram duros. Aí a escola começa a assumir a juventude, a se tornar a escola da juventude. Pensamos na chamada era da informação, que muda radicalmente a escola. A escola em que comecei a dar aulas, nos anos 70, era a escola para passar a informação; a escola em que estudei nos anos 60 era aquela que nos dava grande parte da informação que tínhamos.

Hoje, a informação é conseguida em diferentes lugares, e a escola passa a ser o lugar para tratar a informação, o que significa reflexão, distinguir o falso e o verdadeiro, a origem da informação...

Também não deve diferenciar informação e conhecimento?

Informação leva ao conhecimento. A informação do jeito que os meninos têm hoje, na internet, é superficial. Para se transformar em conhecimento, precisa ser tratada, e aí não é mais passar uma lista de nomes de capitães donatários no quadro. Isso se consegue no Google. É preciso cada vez mais entender como se consegue informação pela internet, e isso passa pela formação docente, o que também terá impacto. Estamos fazendo o debate com as universidades sobre o desenho pedagógico das licenciaturas, pois se elas continuarem puramente disciplinares, altamente conteudistas, não vão formar professores que deem conta de um currículo flexível, interdisciplinar, que trabalhe com outras fontes e formas de leitura. No Plano Nacional de Formação de Professores, um dos efeitos desse plano é fazer com que a universidade discuta e converse sobre a Educação Básica, para que a licenciatura comece a refletir essa nova escola.

Será que não está havendo uma excessiva "demonização" do processo de memorização, visto que ele é uma das partes do processo cognitivo?

Não existe conhecimento sem utilizar a memória. Isso é uma coisa. Outra é a "decoreba", naquele sentido de decorar a tabela periódica sem saber o que ela significa. Quantos e quantos jovens não gastaram horas decorando símbolos e informações sem saber para quê, como e por quê? É fundamental utilizar a memória, memorizar - poesias, datas, linha do tempo. O que não podemos é limitar a avaliação, a prova, a cobrança, a isso. Decorar uma poesia é maravilhoso, mas não porque se pode ser sorteado pela professora para recitar Castro Alves, sem saber quem foi, onde nasceu, em que período histórico escreveu. Essa é a guinada. A memória é um dos maiores instrumentos que temos para o conhecimento e o aprofundamento da aprendizagem. Mas fazer decorar sem sentido não é garantir a aprendizagem. É importante que a memorização não seja "demonizada", mas a memorização apenas para fazer a prova não deve ser o foco da escola.

O despreparo com que muitos alunos estão vindo do ensino fundamental também não está atrapalhando muito o ensino médio?

Sem dúvida. A defasagem idade-série afeta muitos alunos em relação ao processo da Educação Básica. Começar o ensino médio com 17 anos já é uma grande defasagem. Ou com os 15 anos regulamentares, mas com baixa capacidade de leitura, de interpretação, um conhecimento matemático superficial. Garantir o ciclo da alfabetização de forma consistente aos 6-7-8 anos de idade vai causar impacto positivo no percurso escolar desses alunos. As pesquisas mostram, também, que os alunos que têm acesso à pré-escola terão percurso escolar melhor. A qualificação e a melhora no ensino fundamental têm um impacto importante no desempenho do ensino médio, assim como a garantia da educação infantil. Por isso, temos pensado de uma maneira articulada, sistêmica, da creche à pós-graduação.

Até a metade deste ano, o Conselho Nacional da Educação deve aprovar novas diretrizes curriculares para o ensino fundamental. O que devemos esperar como novidades?

A principal é a discussão do ciclo da alfabetização e da nova organização da escola para o ensino fundamental de nove anos. A segunda é a discussão da organização da escola em relação às disciplinas. Não queremos que a criança aos 6 anos já comece a ter essa compartimentação disciplinar que se impõe à escola brasileira e que não é comum no resto do mundo. É preciso pensar que as crianças não aprendem abrindo e fechando portinhas, que no cérebro delas não há uma gavetinha para história, outra para geo­grafia. Queremos aprofundar muito o debate sobre a organização do conhecimento dentro da escola. E o terceiro ponto fundamental é o reconhecimento de que os alunos dos 6 aos 14 anos têm diferenças grandes, então é preciso saber o que é organizar a escola para a infância, para a pré-adolescência e para a adolescência. Isso significa uma mudança de foco.

A saber...

Muitos perguntam qual a diferença da escola seriada para a de ciclos, qual a diferença e o problema do conteudismo. Não existe conhecimento sem conteúdo, mas a escola que se organiza a partir do conteúdo desconhece o aluno. A grande diferença é a escola que organiza os seus tempos, os seus professores a partir do aluno, e a escola que se organiza a partir do conteúdo. No meu tempo de professora, chegávamos à escola em fevereiro e reuníamos os professores de história da 5ª série. Perguntava-se o que daríamos aos alunos naquele ano. No 1º bimestre, Brasil Colônia; no 2º, o Ciclo do Açúcar... e assim por diante. Não sabíamos quem eram os alunos, o que já sabiam, de onde vinham, quais eram suas deficiências. Muitas vezes, recebíamos alunos que mal liam, e tratávamos como se não fosse problema nosso. Qual é a política, qual é o projeto pedagógico para garantir que eles saibam? Essa é a grande mudança que buscamos, que a escola não coloque a culpa da não aprendizagem na criança, que assuma isso como um desafio profissional, que identifique as dificuldades, conheça a trajetória do aluno e organize seu currículo a partir deste conhecimento. Isso é uma guinada na organização do trabalho do professor.

Como isso se instrumentaliza?

Quando a escola se ancora nessas explicações, quando responsabiliza o aluno e sua realidade, deixa de se aprofundar no seu grande desafio profissional. Não é uma questão de culpa. Qual dificuldade tem esse aluno e qual projeto pedagógico será elaborado para que ele supere isso? Tem de ter recuperação, aula de reforço, tem de encaminhar ao posto de saúde porque às vezes ele tem oito graus de miopia, tem de saber se a mãe e o pai deixam faltar na escola uma semana e não tomam providências. Essas são obrigações dos educadores, da escola. A escola não precisa ter médico e garantir os óculos, mas tem de encaminhar para um posto de saúde para que a criança seja atendida; tem de se articular com o Conselho Tutelar para que ele investigue por que a criança faltou um mês e ficou defasada. A frequência é fundamental, mas não acontece por si. Tanto o projeto da escola garante a frequência, como a articulação com outros setores de políticas públicas garante que a criança seja acompanhada e tenha o seu direito atendido. Então isso se instrumentaliza lembrando que professores e diretores também são agentes públicos, e têm esse dever profissional. É essa postura que faz a diferença e que identificamos na pesquisa do Unicef nas escolas que, em condições muito fragilizadas socialmente, conseguem fazer um bom trabalho, pois têm um projeto pedagógico que é de verdade. Têm o projeto de gaveta e o de verdade, elaborado por seus profissionais e que efetivamente orienta as suas ações. E isso faz uma grande diferença.

Quanto à formação docente: o MEC fez parceria com os estados e entrou firmemente na gestão compartilhada desse processo. Mas o perfil desses professores ficou a critério dos estados.O MEC não pensa em propor um perfil de formação?

Aí entra a nossa grande dificuldade, que é o nosso regime federativo e a autonomia de estados e municípios. O que fizemos para que esse trabalho entre União, estados e municípios tenha mais coerência? Cada estado tem um fórum estratégico de formação, de que participam o secretário estadual, o representante dos secretários municipais, o representante dos trabalhadores em educação e um representante de cada instituição pública de ensino superior que aderiu ao Plano Nacional de Formação. Identificamos na formação inicial qual é o perfil do professor que pode participar desse primeiro movimento. Eram 300 mil vagas até 2011. São três perfis [de contemplados]: aqueles que não têm formação superior; aqueles que já têm licenciatura, mas atuam em outra área; e aqueles que têm curso superior, mas que não têm licenciatura e devem fazer uma complementação pedagógica. No Plano Nacional de Formação, a formação inicial é garantida, numa primeira etapa, para esses três perfis. Na formação continuada, pedimos aos gestores que identifiquem os maiores desafios da educação de seu município ou estado - se é alfabetização, inclusão de crianças com deficiência etc. - e a plataforma Freire faz a articulação com os cursos oferecidos nessas áreas. Agora, estamos também começando o debate com as instituições de ensino superior sobre o desenho pedagógico das licenciaturas para que elas se articulem mais com essas novas orientações.

Existe um planejamento, um cronograma para nortear esse debate?

Os fóruns já funcionam desde o ano passado. Temos 13 estados em que os fóruns funcionam muito bem, cinco em que começam a engrenar agora e nove que estavam previstos para começar a funcionar em abril, ou seja, para cada estado a articulação é diferente. Mato Grosso é um exemplo de bom funcionamento, articulado, e agora vamos fomentar os centros de formação de professores estaduais. Mato Grosso, Bahia e Paraná têm centros de formação ligados às secretarias estaduais e eles começarão a trabalhar articulados conosco na formação continuada. Começamos no ano passado com a inscrição dos professores na formação inicial, a validação. Houve matrículas para o segundo semestre de 2009, com as matrículas para o segundo semestre de 2010. O cronograma é até o final de 2011. E o MEC lançou agora o edital para a Rede Nacional de Formação Continuada, em que chamamos as universidades para que elas ofereçam cursos - já temos uma rede, agora ampliamos - e para que esses cursos sejam oferecidos como fazem, por exemplo, a Universidade Federal de Pernambuco e a Universidade Federal de Minas Gerais. Ambas têm o Pró-letramento, para professores das séries iniciais. Qualquer município do Brasil pode escolher esse curso e a universidade que recebe o recurso do MEC se articula diretamente com o município para oferecer o curso.
Até o final do fevereiro deste ano, cerca de mil municípios ou não estavam fazendo o acompanhamento do PAR, ou não faziam de forma de adequada. Muitos alegavam não ter acompanhamento técnico adequado do MEC. A formação de pessoal técnico não precisa ser acelerada?Estamos nos articulando com as universidades para que elas façam o monitoramento. Já repassamos recursos, a parte de construção e reformas de escolas, de compra de mobiliário tem funcionado bem. A Renilda Peres de Lima, diretora do FNDE, está fazendo, com nossa diretoria de articulação com sistemas, o monitoramento, mas nós começamos com os 1.822 municípios de baixo Ideb e os grupos de trabalho das 172 maiores cidades do Brasil. Esse é o nosso foco inicial. Analisamos antes os prioritários e hoje devemos ter quase 5 mil planos de ações articuladas analisados, uns 400 e tantos na fila, e só 48 que não fizeram ainda o PAR.
Quais as chances de o governo atual aprovar os 10% do PIB propostos para a educação na Conae?

Aí já é um exercício de quiromancia. Digo a opinião da Secretaria de Educação Básica: quanto mais recursos tivermos, melhor para a educação. Apesar de termos triplicado o orçamento da educação de 2003 a 2010, passando de R$ 14,1 bilhões para R$ 51,7 bilhões, e estarmos chegando perto de 5% do PIB, ainda precisamos de mais recursos, pois temos uma grande dívida social. As creches, por exemplo, se tornaram efetivamente uma obrigação da educação a partir do ano 2000. Passamos de 9% para 18% de crianças de 0 a 3 anos atendidas em creches, mas ainda é pouco. E creche é o investimento mais alto da Educação Básica, pois o percentual criança-adulto tem de ser menor, a escola tem de ser menor, a infraestrutura, os equipamentos, tudo é diferenciado. É preciso um investimento alto. O governo federal já financiou 1.720 escolas infantis em parceria com os municípios. Mas precisamos fazer 1.500 por ano para atingir a meta do PNE, que é de 50% das crianças de 0 a 3 atendidas. Então, é preciso haver mais recursos. Obviamente que bem geridos, com foco, com projetos estruturadores. Mas, se for 7% do PIB, ótimo, se for 10%, maravilhoso. Nós, da educação, nunca vamos achar que a parcela de recursos do país para a educação não deve crescer, principalmente para a Educação Básica.

Fonte: Revista Escola Pública -Maio/Junho 2010

Reportagem de Rubens Barros

domingo, 6 de junho de 2010

I CONGRESSO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO INFANTIL DO ESTADO DE ALAGOAS



INFORMAÇÕES
O I Congresso Internacional de Educação Infantil, contará com palestrantes voluntários dos Estados Unidos, Portugal, Inglaterra, São Paulo, Alagoas, Mato Grosso do Sul e Paraná.
A abordagem dos palestrantes, terá como foco o sub-tema: “ O brincar como direito da criança”.As palestras terão duração de 2 horas, sendo 30 minutos direcionados para as perguntas dos participantes.
Ao todo serão doze palestrantes, muitos deles com publicações de livros.
Local do Evento:Centro de Convenções de Maceió
Credenciamento dia 14/07/2010 Horário: 7h30 às 8h30
A inscrição inclui: A participação no Congresso Internacional de Educação Infantil, Programa Oficial do Evento, Crachá, Bloco e Caneta.
Certificados Emitidos pela Associação Carlo Novello, com carga horária de 40 horas.
Dúvidas e maiores informações, envie um email para contato@escolaestreladomar.org.br

PROGRAMAÇÃO

14 de Julho (Quarta-feira)

7h30 às 8h30 - Credenciamento
8h30 – Abertura
Palestras:
09h - Rita Coelho (Coordenadora Geral de Educação Infantil do Ministério da Educação) Política Nacional de Educação Infantil: Pelo direito das crianças de 0 a 6 anos à Educação.
10h30 - Telma Vitoria (professora da Universidade Federal de Alagoas) Os Fazeres da Educação Infantil com as Famílias.
12h às 14h – Intervalo
14h - Lenira Haddad (professora da Universidade Federal de Alagoas) Abordagem Educativa High/Scope e as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil/2009.
16h30 - José Pacheco (fundador da Escola da Ponte, em Portugal) Organização da Escola para a Diversidade.

15 de Julho (Quinta-feira)

8h - Nelson Guerchon (neuropediatra, no Paraná) Desenvolvimento Neurológico do Aprendizado de 0 a 6 anos
10h30 - Laura Schulkind e Steve Waechter (músicos, nos Estados Unidos)A Importância da Musicalidade na Educação Infantil.
12h às 14h. Intervalo
14h - Manuel Sarmento (diretor do Cento de Educação da Universidade do Minho, em Portugal) Culturas da Infância e Educação
16h30 - Fátima Coimbra (professora de Jardim de Infância, em Portugal) O Projeto como Forma Lúdica de Aprendizagens.

16 de Julho (Sexta-feira)

8h - Odália Almeida (professora da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul) É hora de brincar, é hora de ser criança, é hora de valorizar as Culturas da Infância.
10h30 - Francis Wardle (professor da Universidade de Phoenix, nos Estados Unidos) Novas Pesquisas sobre o Cérebro para Ensinar as Crianças.
12h às 14h – Intervalo
14h - Nádia Silveira – (professora do Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia de Alagoas) A utilização do jogo na sala de aula.
16h30 - Cleriston Izidro dos Anjos (professor da Universidade Federal de Alagoas) O jogo e a brincadeira na perspectiva da teoria das múltiplas inteligências.

INVESTIMENTO
As incrições serão realizadas apenas através de depósitos bancários, em nome da Associação Carlo Novello
Inscrição: R$ 250,00
Alunos de Graduação e pós-graduação:R$ 175,00
Dados bancários:Banco BradescoAgência: 3229-8Conta Corrente: 47227-1
O comprovante de depósito deverá ser encaminhado juntamente com a Ficha de Inscrição, devidamente preenchida, para a sede da Associação Carlo Novello, (Escola Estrela do Mar).End. Rua Jorge Montenegro Barros, 3330, Santa Amélia, Maceió, Alagoas. Tel. (82) 3314-2752.

terça-feira, 1 de junho de 2010

COM A PALAVRA: JOSÉ PACHECO


Não haveria momento mais oportuno como esse para me fortalecer enquanto pessoa e profissional E pensar, que as vezes, até me pego fazendo questionamentos inadequados à minha própria consciência, pois em um mundo onde todos querem fazer o que é mais fácil e o que dá menos trabalho, preferencialmente aquilo que uma multidão de outras pessoas já faz, é muito difícil ser "diferente".
Então, quando me deparo com ideias semelhantes às minhas, com olhares tão profundos para com a educação, como também costumo ter, fico imensamente feliz, pois mesmo sabendo que são poucos, ainda há educadores que também pensam e compartilham das mesmas utopias que eu. E a existência disso é muito importante para mim.
Para "brindar" tamanha satisfação, quero compartilhar com vocês uma entrevista concedida por José Pacheco ao site Uol Educação. Entre tantas que já li, posso afirmar, sem dúvida alguma, que é uma das mais coerentes reflexões feitas acerca da educação brasileira.


"TRABALHO HÁ MAIS DE 30 ANOS COM ESCOLA QUE NÃO TEM AULA, SÉRIE E PROVA, E DÁ CERTO", DIZ EDUCADOR PORTUGUÊS

Idealizador da Escola da Ponte, em Portugal, instituição que, em 1976, iniciou um projeto no qual os estudantes aprendem sem salas de aula, divisão de turmas ou disciplinas, o educador português José Pacheco afirma que as escolas tradicionais são um desperdício para os estudantes e os professores. “O que fiz por mais de 30 anos foi uma escola onde não há aula, onde não há série, horário, diretor. E é a melhor escola nas provas nacionais e nos vestibulares", diz. "Dar aula não serve para nada. É necessário um outro tipo de trabalho, que requer muito estudo, muito tempo e muita reflexão."Aos 58 anos, o professor que classifica autores como Jean Piaget como "fósseis", fez uma peregrinação pelo país. No trabalho de prospecção de boas iniciativas em colégios brasileiros, Pacheco só não conheceu instituições do Acre e do Amapá e diz ter somado cerca de 300 voos no último ano.Com a experiência das viagens, escreveu dois livros de crônicas: o "Pequeno Dicionário de Absurdos em Educação", da editora Artmed, e o "Pequeno Dicionário das Utopias da Educação", da editora Wak. Aponta ainda que a educação brasileira não precisa de mais recursos para melhorar: "O Brasil tem tudo o que precisa, tem todos os recursos e os desperdiça". Veja a entrevista:


UOL Educação - Em suas andanças pelo país, qual o absurdo que mais chamou sua atenção?
Pacheco - O maior absurdo é que a educação do Brasil não precisa de recursos para melhorar. O Brasil tem tudo o que precisa, tem todos os recursos e os desperdiça.

UOL Educação - Desperdiça como?
Pacheco - Pelo tipo de organização. A começar pelo próprio Ministério da Educação. Eu brinco, por vezes, dizendo que o melhor que se poderia fazer pela educação no Brasil era extinguir o Ministério da Educação. Era a primeira grande política educativa.

UOL Educação - Qual o problema do ministério?
Pacheco - Toda a burocracia do Ministério da Educação que se estende até a base, porque a burocracia também existe nas escolas, à imagem e semelhança do ministério. No próprio ministério, o contraste entre a utopia e o absurdo também existe. Conheço gente da máxima competência, gente honesta. O problema é que, com gente tão boa, as coisas não funcionam porque o modo burocrático vertical não funciona. É um desperdício tremendo.

UOL Educação - Como resolver?
Pacheco - Teria de haver uma diferente concepção de gestão pública, uma diferente concepção de educação e uma revisão de tudo o que é o trabalho.UOL Educação - O que teria de mudar na concepção de educação?Pacheco - O essencial seria que o Brasil compreendesse que não precisa ir ao estrangeiro procurar as suas soluções. Esse é outro absurdo. Quais são hoje os autores que influenciam as escolas? Vygotsky [Lev S. Vygotsky (1896-1934)], Piaget [Jean Piaget (1896-1980)]? Não vejo um brasileiro. Mas podem dizer: "E Paulo Freire?". Não vejo Paulo Freire em nenhuma sala de aula. Fala-se, mas não se faz.
Identifiquei, nos últimos anos, autores brasileiros da maior importância que o Brasil desconhece. Esse é outro absurdo. Quem é que ouviu falar de Eurípedes Barsanulfo (1880-1918)? De Tomás Novelino (1901-2000)? De Agostinho da Silva (1906-1994)? Ninguém fala deles. Como um país como este, que tem os maiores educadores que eu já conheci, não quer saber deles nem os conhece?Há 102 anos, em 1907, o Brasil teve aquilo que eu considero o projeto educacional mais avançado do século 20. Se eu perguntar a cem educadores brasileiros, 99 não conhecem. Era em Sacramento, Minas Gerais, mas agora já não existe. O autor foi Eurípedes Barsanulfo, que morreu em 1918 com a gripe espanhola. Este foi, para mim, o projeto mais arrojado do século 20, no mundo.

UOL Educação - O que tinha de tão arrojado?
Pacheco - Primeiro, na época, era proibida a educação de moços e moças juntos. Só durante o governo Getúlio Vargas é que se pôde juntar os dois gêneros nos colégios. Ele [Barsanulfo] fez isso. Ele tinha pesquisa na natureza, tinha astronomia no currículo oficial. Não tinha série nem turma nem aula nem prova. E os alunos desse liceu foram a elite de seu tempo. Tomás Novelino foi um deles e Roberto Crema, que hoje está aí com a educação holística global, foi aluno de Novelino.

UOL Educação - Por que o senhor fala desses autores?
Pacheco - Digo isso para que o brasileiro tenha amor próprio, compreenda aquilo que tem para que não importe do estrangeiro aquilo que não precisa. É um absurdo ter tudo aqui dentro e ir pegar lá fora.

UOL Educação - Qual foi a maior utopia que o senhor viu?

Pacheco - O Brasil é um país de utopias, como a de Antônio Conselheiro e a de Zumbi dos Palmares. Fui para a história, para não falar em educação. Na educação, temos Agostinho da Silva, que é um utópico coerente, cuja utopia é perfeitamente viável no Brasil. Ou seja, é possível ter uma educação que seja de todos e para todos. O Brasil, dentro de uns 30 ou 40 anos, será um país bem importante pela educação. São os absurdos que têm de desaparecer, para dar lugar à concretização das utopias. Acredito nisso, por isso estou aqui.

UOL Educação - Os professores são resistentes às mudanças?
Pacheco - Os professores são um problema e são a solução. Eu prefiro pensar naqueles professores que são a solução, conheço muitos que estão afirmando práticas diferentes.

UOL Educação - Práticas diferentes como a da Escola da Ponte?
Pacheco - Não são "como", mas inspiradas, com certeza. São práticas que fazem com que a escola seja para todos e proporcione sucesso para todos. UOL Educação - Dentro da escola tradicional, onde ocorre o desperdício de recursos?Pacheco - Se considerarmos o dinheiro que o Estado gasta por aluno, daria para ter uma escola de elite. Onde o dinheiro se desperdiça? Por que em uma escola qualquer, que tem turmas de 40 alunos, a relação entre o número de professores e de alunos é de um para nove? Por que os laudos e os atestados médicos são tantos? Porque a situação que se criou nas escolas é a do descaso. Esse é um absurdo.

UOL Educação - Onde mais ocorre o desperdício nas escolas?
Pacheco - O desperdício de tempo também é enorme em uma aula. Pelo tipo de trabalho que se faz, quando se dá aula, uma parte dos alunos não tem condições de perceber o que está acontecendo, porque não têm os chamados pré-requisitos, e se desliga. Há um outro conjunto de crianças que sabem mais do que o professor está explicando - e também se desliga. Há os que acompanham, mas nem todos entendem o que o professor fala. Em uma aula de 50 minutos, o professor desperdiça cerca de 20 horas. Se multiplicarmos o número de alunos que não aproveitam a aula pelo tempo, vai dar isso.O desperdício maior tem a ver com o funcionamento das escolas. Os professores são pessoas sábias, honestas, inteligentes e que podem fazer de outro modo: não dando aula, porque dar aula não serve para nada. É necessário um outro tipo de trabalho, que requer muito estudo, muito tempo e muita reflexão.

UOL Educação - As famílias não estão acostumadas com escolas que não têm classe, professor ou disciplinas. Querem o conteúdo para o vestibular. Como se rompe com esse tipo de mentalidade?
Pacheco - Pode-se romper mostrando que é possível. Eu falo do que faço, e não de teorias. O que fiz por mais de 30 anos foi uma escola onde não há aula, onde não há série, horário, diretor. E é a melhor escola nas provas nacionais e nos vestibulares. Justamente por não ter aulas e nada disso.

UOL Educação - Por que uma escola que não tem provas forma alunos capazes de ter boas notas em provas e concursos?
Pacheco - Exatamente por ser uma escola, enquanto as que dão aulas não são. As pessoas têm de perceber que não é impossível. E mais, que é mais fácil. Posso afirmar, porque já fiz as duas coisas: estive em escolas tradicionais, com aulas, provas, com tudo igualzinho a qualquer escola; e estive também 32 anos em outra escola que não tem nada disso. É mais fácil, os resultados são melhores.

UOL Educação - Na concepção do senhor, o que é uma boa escola?
Pacheco - É a aquela que dá a todos condições de acesso, e a cada um, condições de sucesso. Sucesso não é só chegar ao conhecimento, é a felicidade. É uma escola onde não haja nenhuma criança que não aprenda. E isso é possível, porque eu sei que é. Na prática.

UOL Educação - O professor que está em uma escola tradicional tem espaço para fazer um trabalho diferente? O senhor vê espaço para isso?
Pacheco - Não só vejo, como participo disso. No Brasil, participei de vários projetos onde os professores conseguiram escapar à lógica da reprodução do sistema que lhe é imposto. Só que isso requer várias condições: primeiro, não pode ser feito em termos individuais; segundo, a pessoa tem de respeitar que os outros também têm razão. Se, dentro da escola, os processos começam a mudar e os resultados aparecem, os outros professores se aproximam. Não tem de haver divisionismo.

UOL Educação - O senhor acha que a mudança na estrutura da escola poderia partir do poder público ou depende da base?
Pacheco - Acredito que possa partir do poder público, mas duvido que aconteça. As secretarias têm projetos importantes, mas são de quatro anos. Uma mudança em educação precisa de dezenas de anos. Precisa de continuidade. E isso é difícil de assegurar em uma gestão. Precisa partir de cada unidade escolar e do poder público juntos.

Entrevista concedida em 30 de junho de 2009

CNE DISCUTE PROJETO PARA ACABAR COM REPROVAÇÃO NOS PRIMEIROS TRÊS ANOS DO ENSINO FUNDAMENTAL


O CNE (Conselho Nacional de Educação) discute um projeto que quer acabar com a reprovação nos três primeiros anos do ensino fundamental, tornando-os um grande “ciclo” de alfabetização. O texto, que deve entrar na pauta do órgão em julho, pode provocar uma mudança no sistema educacional dividido em séries.
Para que o ciclo de três anos entre em vigor, seria necessário que estados e municípios –que têm autonomia para fazer a gestão de seus sistemas educacionais– mudassem a forma seriada de aprendizagem, no qual, no final de cada ano, é feita uma avaliação que pode provocar a reprovação do aluno. A norma que pode sair do CNE não tem o poder de determinar essa mudança e ainda precisaria ser homologada pelo ministro Fernando Haddad.
Segundo a presidente da Câmara de Educação Básica do CNE, Clélia Brandão, a proposta não significa aprovação automática. “Esse período de três anos é de acompanhamento. A criança tem uma maturidade cognitiva referente aos seus seis ou sete anos. Muitas vezes, a retenção constitui-se mais um desestímulo do que um estímulo. Nós temos que nos preocupar com a aprendizagem”, diz.
“Não dá pra você continuar organizando a educação básica da forma que ela vem sendo organizada. Essa forma restringe muito a possibilidade de o aluno aprender de uma forma diferente, porque está todo mundo dentro da série”, afirma Célia.
“A lei brasileira não pode fixar, dizer que a educação básica vai ser seriada ou em ciclos. A princípio, está sendo discutida uma questão de indução do processo”, diz o diretor de concepções e orientações curriculares da Secretaria de Educação Básica do MEC (Ministério da Educação), Carlos Artexes Simões. Segundo ele, 3,5% das crianças de até seis anos são reprovadas na escola.
Para Demerval Saviani, professor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), a proposta em tramitação no CNE pode tirar um pouco do que ele chamou de “confusão” dos nove anos no ensino fundamental. “A gente pode imaginar que essa medida, os ciclos de três anos, vem de algum modo tentar equacionar a questão do ensino fundamental de nove anos, começando aos seis”, afirmou. “O MEC tem tomado medidas que, às vezes, se superpõem e se contradizem em si. [Os nove anos] Criaram uma situação um pouco confusa. Não ficou definido o status do ultimo ano da educação infantil e o primeiro do ensino fundamental.”
Em São Paulo, já ocorre a chamada “progressão continuada”, em que o aluno só pode ser retido nos 5° e 9º anos do ensino fundamental e no 3º ano do ensino médio –mesmo assim, apenas uma vez. Ele também precisa cumprir uma frequencia mínima de 75% em todas as séries.

FONTE: Uol Notícias

Reportagem de Rafael Targino