domingo, 23 de maio de 2010

O DRAMA DO PROFESSOR

Muitas vezes, em diversas opiniões dadas por mim em relação à educação brasileira , costumo apontar que há uma diferença entre "professores" e "educadores". E quando me reporto a essa comparação tenho em mente,exatamente, os conceitos,tão bem colocados por Rubem Alves, quando faz um comparativo dessas duas figuras aos eucaliptos e jequitibás.
Com base nisso, quero trazer hoje, por meio desse blog, um artigo bastante reflexivo sobre as atuais "responsabilidades" de um educador no século XXI.
Quero deixar bem claro que não se trata aqui de criticar o fato dos educadores se envolveram nas diversas instâncias do mundo educacional, mas da forma como essas "responsabilidades" vem sendo impostas a muito educadores em nosso país.
Espero que esse texto possa gerar uma grande reflexão em muitos de vocês. E que essas possam ser trazidas para a prática , para que soluções inteligentes venham surgir o quanto antes.

Por Dermeval Saviani
Diante das pressões para exercer várias funções, o educador ainda terá de participar da gestão escolar, da vida da comunidade e orientar os estudos dos alunos?
Como ocorre com os trabalhadores em geral, também os professores são instados a se aperfeiçoar continuamente. O mercado e seus porta-vozes governamentais querem um professor ágil, leve, flexível, que, a partir de uma formação inicial ligeira e a baixo custo, aprimore sua qualificação no exercício docente refletindo sobre sua prática, apoiado, eventualmente, por cursos rápidos. Pede-se, ainda, que você não apenas ministre suas aulas, mas também participe da elaboração do projeto pedagógico das escolas, da vida da comunidade, da gestão da escola e do acompanhamento dos estudos dos alunos. Você, como a maioria dos professores, não ficou imune ao canto da sereia das novas pedagogias. A descrença no saber científico e a procura de “soluções mágicas” do tipo reflexão sobre a prática, relações prazerosas, pedagogia do afeto, transversalidade dos conhecimentos e fórmulas semelhantes vêm ganhando a cabeça dos professores. Estabelece-se, assim, uma “cultura escolar” de desprestígio dos professores e dos alunos que querem trabalhar seriamente e de desvalorização da cultura elaborada. Nesse tipo de “cultura escolar”, o utilitarismo e o imediatismo da cotidianidade prevalecem sobre o trabalho paciente e demorado de apropriação do patrimônio cultural da humanidade. Com isso a escola foi sendo esvaziada de sua função específica ligada ao domínio dos conhecimentos sistematizados. Nesse quadro você, professor, é lançado na defensiva. Diante das pressões para exercer o conjunto de funções solicitadas, você responde: mas... eu já faço das tripas coração para ministrar, da melhor forma possível, um grande número de aulas, em três ou quatro escolas diferentes, para turmas numerosas de alunos... e ainda vou ter de participar da gestão da escola; da vida da comunidade e orientar os estudos dos alunos? O professor, que nos anos 80 participou da mobilização dos educadores, reivindicando maior participação nas decisões, agora se vê diante da seguinte cobrança: “Vocês não reivindicaram maior participação? Pois é. Suas reivindicações foram todas atendidas pela legislação. Portanto, o êxito da escola e da política educacional que a orienta depende apenas da iniciativa e dedicação de vocês, professores”. Eis aí o seu drama atual, caro professor. Na verdade, você também é vítima da inclusão excludente. Os dirigentes esperam que você exerça todo um conjunto de funções com o máximo de produtividade e o mínimo de dispêndio, isto é, com modestos salários. Claro que, se você fosse bem remunerado no âmbito de uma carreira docente que lhe garantisse jornada integral numa única escola, você poderia exercer sem maiores problemas as mencionadas funções. Cabe, pois, passar da defensiva à ofensiva, organizando fortemente a categoria dos professores e mobilizando toda a sociedade em torno da conquista de uma carreira docente digna e justa. Sem isso, todas as proclamações em torno da valorização da educação não passarão de promessas vãs.
FONTE: Revista Carta Escola, Maio de 2010

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