domingo, 14 de fevereiro de 2010

UMA LEITURA SOCIAL DA PROFISSÃO DOCENTE


O ato de ensinar não é uma das tarefas mais fáceis que existe na vida, principalmente por si tratar de uma ação onde a dialética permeia, ou pelo menos deveria permear, todo o processo, porque numa verdadeira ação educativa que se preze, educando e educador dialogam a todo momento, e é esse diálogo que permite o crescimento de ambos.
Infelizmente, há exceções que fogem à regra, e quando se trata de educação, meu Deus! São alarmantes os números de exceções.
Essa semana me deparei com uma dessas tantas exceções que existem por aí. Na verdade foi até uma supresa, pois para mim quem defende um discurso enquanto educador, educador é em sua prática, mas caí no "abismo" das exceções, e constatei que também há discursos que não condizem com a prática.
A situação em si me deixou um tanto pensativa, pois por mais que haja brecha para as exceções não consigo visualizar a defesa de um discurso em vão, daquilo que não é exercido na prática. Pelo menos eu não consigo fazer isso, e ainda é complexo demais para a minha cabeça aceitar que outras pessoas o façam sem o menor remorço, sem a menor preocupação.
Toda essa situação me permitiu fazer uma reflexão bastante intensa sobre a profissão docente, onde pude constatar e relembrar um pouco as palavras de Rubens Alves sobre as "sutis" diferenças traçadas, em seu livro "Conversas com gosta de ensinar", entre o que é ser educador e o que é ser professor, ou como ele mesmo diz, entre o que é ser um jequitibá e o que é ser um eucalipto: "O educador não deve ser considerado um simples professor, na acepção daquele que apenas ensina uma ciência, técnica ou disciplina. Educadores e professores possuem função e natureza distintas. Eles não são forjados no mesmo forno. E se de fato não são de mesma natureza, de onde vem o educador? Qual a sua procedência? Tem ele o direito de existir? Como pode ser constituído? Não se trata de formar o educador, como se ele não existisse. Como se houvesse escolas capazes de gerá-lo ou programas que pudessem trazê-lo à luz. Eucaliptos não se transformarão em jequitibás, a menos que em cada eucalipto haja um jequitibá adormecido: os eucaliptos são árvores majestosas, bonitas, porém absolutamente idênticas umas às outras, que podem ser substituídas com rapidez sem problemas. Ficam todas enfileiradas em permanente posição de sentido, preparadas para o corte e o lucro. Educadores são como jequitibás. Os eucaliptos são símbolos dos professores, que vivem no mundo da organização, das instituições e das finanças. Os eucaliptos crescem depressa para substituírem as velhas árvores seculares que ninguém viu nascer e nem plantou. Aquelas árvores misteriosas que produzem sombras não penetradas, desconhecidas, onde reside o silêncio nos lugares não visitados. Tais árvores possuem até personalidade como dizem os antigos. Os educadores são como árvores velhas, como jequitibás, possuem um nome, uma face, uma história. Educador não pode ser confundido com professor. Da mesma forma que jequitibás e eucaliptos não são as mesmas árvores, não fornecem a mesma madeira".
E o grande mestre ainda reforça, o que na minha opinião é a essência da missão de ser educador: " Educadores habitam um mundo onde o que vale é a relação que os liga ao aluno, sendo que cada aluno é uma entidade sui generis, portador de um nome, também de uma estória, sofrendo tristezas e alimentando esperanças. E a educação é algo pra acontecer nesse espaço invisível e denso, que se estabelece a dois. Espaço artesanal".

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