domingo, 9 de janeiro de 2011

POR QUE BRINCAR?

A importância da brincadeira no processo de desenvolvimento da criança

Lápis, caderno, chiclete, peão
Sol, bicicleta, skate, calção
Esconderijo, avião, correria,
Tambor, gritaria, jardim, confusão

Bola, pelúcia, merenda, crayon
Banho de rio, banho de mar,
Pula sela, bombom
Tanque de areia, gnomo, sereia,
Pirata, baleia, manteiga no pão

Giz, merthiolate, band aid, sabão
Tênis, cadarço, almofada, colchão
Quebra-cabeça, boneca, peteca,
Botão. pega-pega, papel papelão

Criança não trabalha
Criança dá trabalho
Criança não trabalha

1, 2 feijão com arroz
3, 4 feijão no prato
5, 6 tudo outra vez

O texto registrado acima trata-se da letra da música "Criança não trabalha", de autoria de Arnaldo Antunes e Paulo Tatit, e que faz muito sucesso com o grupo Palavra Cantada.

Como podemos observar, a letra da referida música faz um destaque às brincadeiras, brinquedos e objetos de nossa infância, apontando para uma das etapas essenciais na vida de qualquer criança: O ATO DE BRINCAR.

Mas o que é, de fato, o brincar? Que relevância tem esse ato no processo de desenvolvimento da criança?

A palavra brincar vem da junção BRINCO + AR, que origina-se do latim VINCULUM, que significa LAÇO, UNIÃO. Por essa razão, é possível afirmar que o ato de brincar, desde a origem da palavra, constitui-se numa atividade de ligação, vínculo com algo em si mesmo e com o outro, pois é por meio da brincadeira que a criança desenvolve capacidades como descobrir, escolher e recriar.

Conforme destaca Marilena Flores Martins, atual presidente da Associação Brasileira pelo Direito de Brincar e autora do livro "Brincar é Preciso", o ato de brincar contribue significativamente no processo de desenvolvimento da criança, pois, segundo a autora, "brincar faz com que as crianças mudem cada estágio de desenvolvimento, permitindo-lhes fazer amigos, resolver dificuldades, seguir seus instintos, pensar e aprender com os outros." Durante a ação de brincar, a criança começa a perceber seus próprios limites, tornando-se mais tolerante e aprendendo a lidar melhor com as frustrações.

Mesmo apresentando tantos fatores que beneficiam cognitivamente e emocionalmente a criança, o ato de brincar, atualmente, tem ficado cada vez mais escasso. A ideia de que brincar é uma grande perda de tempo, que tem origem num passado bem distante, mas que perpetua até os dias atuais, tem contribuído para que muitas crianças sejam privadas de tal direito.

Infelizmente, muitas vezes, as consequências de tal privação são bastante drásticas, principalmente quando a brincadeira dá lugar ao trabalho infantil. Segundo os mais recentes indicadores sobre o assunto, divulgados pelo ¹IBGE  e com base nos resultados do ²PNAD, o Brasil continua liderando o ranking de crianças que trabalham. Conforme os resutados, o pais, atualmente, alcança a marca de 1,637 milhão crianças entre 5 e 14 anos, o que equivale a 5%, metade do  percentual de toda a América Latina e Caribe, que ao todo, somam 10%.

Embora haja reconhecimento de quanto isso é prejudicial ao desenvolvimento da criança, ainda é irrelevante o percentual de pessoas, sejam essas pais, mães e/ou educadores, que valorizam o ato de brincar, o considerando tão importante quanto o ato de trabalhar ou até mesmo estudar.

Diante das armadilhas impostas pelo capitalismo, as classes sociais acabam dividindo-se em em dois caminhos distintos: as classes mais pobres, na grande maioria, obrigam os filhos a trabalharem para aumentar a renda familiar e com isso garantir a sobrevivência da família; Enquanto que as mais ricas, procuram ocupar seus filhos com a maior quantidade possível de atividades relacionadas ao estudo, procurando desta forma garantir o sucesso profissional dos mesmos, mesmo que de forma bastante imatura e muitas vezes equivocada.

Como é possível observarmos, em ambas realidades, o direito  à brincadeira acaba sendo negligenciado em detrimento de outras obrigações impostas pelos adultos, o que é lamentável, pois muito do que somos ou que até mesmo deixamos de ser, com certeza, firmou-se nos momentos de brincadeiras que tivemos em nossa infância: "Os pais precisam saber que brincar desenvolve todas as habilidades e qualidades necessárias para um desempenho de sucesso, seja na vida pessoal ou profissional", afirma Marilena Flores Martins, com a qual eu concordo plenamente, enquanto mãe e educadora que sou.
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¹ Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
² Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

A criança da foto é Davi, meu sobrinho de 1 ano e meio. 

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