sexta-feira, 15 de outubro de 2010

DIA DE QUEM?




Quem me conhece sabe o quanto abomino essa história  de comemoração de algumas datas tidas como "comemorativas", principalmente, porque  no final das contas a data em si não faz menção à comemoração nenhuma. Na grande maioria dos casos, ou são modismos criados pelo mercado capitalista para lhe gerar muito mais lucro , ou refletem lembranças bastante desagradáveis que ao invés de serem chamadas "comemorativas" deveriam ser chamadas de "reflexivas" ou até mesmo "reivindicativas".

Em relação ao dia de hoje, por exemplo, tido oficialmente aqui no Brasil como o "dia do professor", a situação não é tão diferente assim. Pude perceber, ao longo do dia, o quanto as pessoas se cumprimentaram, o quanto desejaram felicidades aqueles que são professores... Mas será que alguém sabe o que realmente se comemora? Ou melhor, será que , de fato, existe algo a ser comemorado por traz desse dia? Há reflexões sobre isso?

Revisitando um pouco a história brasileira percebo que a minha indignação com certas "comemorações" não é à toa, e quanto ao dia de hoje, a situação é bem mais complexa do que eu imaginava.

Há  um bocado de anos atrás, exatamente em 15 de outubro de 1827, foi outorgado, por D. Pedro I, um decreto imperial  que se tratava, mais especificicamente, da primeira Lei geral relativa ao Ensino Elementar. Essa lei, conforme aponta os registros da época, tratou dos mais diversos assuntos, desde a descentralização do ensino, remuneração dos professores e mestras, ensino mútuo, currículo mínimo, admissão de professores até  as escolas das meninas.  Puxa, que maravilha! Dito assim, de forma bem geral parece que se trata da melhor coisa do mundo. E se fosse verdade, realmente eu me redimiria, engoliria as minhas humildes palavras e seria a primeira a aplaudir  pela grandiosidade do dia. Mas ao que me parece, essa era a proposta- de ser algo melhor, que contribuísse para o avanço do ensino.Se isso foi colocado em prática, ou se ao menos aconteceu em algum momento é uma outra história.
Mas uma coisa é certa: vocês sabem qual a primeira contribuição dessa "bendita" Lei, ainda em de 15 de outubro de 1827? Foi a de determinar, no seu artigo 1º, que as Escolas de Primeiras Letras (hoje, ensino fundamental) deveriam ensinar, para os meninos, a leitura, a escrita, as quatro operações de cálculo e as noções mais gerais de geometria prática. Quanto às meninas, pobres coitadas! Sem qualquer embasamento pedagógico, estavam excluídas das noções de geometria. Mas haveria algo muito "bom", "oportuno" e bastante "pertinente" para as pobres infelizes.Sim, as tão famosas "prendas": costurar, bordar, cozinhar... Tudo em prol da economia doméstica. Teria destino melhor para as mulheres daquela época?

Não quero aqui me prolongar em questões que não são centrais, mas todos nós sabemos a verdadeira  resposta para tal pergunta, não é mesmo?

Bom, é evidente que o tempo passou e que houve avanços em relação à referida lei, mas afirmar, depois de tal exposição que há algo a se comemorar é um tanto contraditório para quem se diz educador. Afinal de contas, mesmo anos depois a mulher, principalmente negra e índia continua pertencendo às classes mais marginalizadas; A descentralização das escolas, em muitos locais, só acontece no papel; o salário dos professores é o grande gargalo de todos os tempos, e a resposta, muitas vezes insensata, para explicar grande parte dos problemas educacionais. E o currículo, meu Deus! Esse sim, continua mais elitista do nunca. Fortalecendo o reinado da burguesia e fragilizando àqueles que mais precisam.

Aos educadores, de fato, aqueles que lutam diariamente pela mudança desta realidade, os meus parabéns, não somente por hoje, mas por ontem, por manhã, por depois e por todos os demais dias em que continuarão lutando pela tão sonhada transformação social.

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