domingo, 31 de outubro de 2010

TECNOLOGIA E PROFESSORES


A nova era tecnológica vivenciada em pleno século XXI está a cada dia mais presente na vida de todos nós. Independente de fatores sociais e financeiros, a tecnologia vem se expandindo na vida das pessoas, todos os dias numa velocidade gritante.

O computador, que conta com o apoio do recurso da internet - a grande rede mundial de computadores - é, sem dúvida, um dos meios mais fascinantes e vem conquistando cada vez mais adeptos de todas as idades em várias partes do mundo.

No Brasil, essa realidade também acompanha adultos e crianças, e como não podia ser diferente, é um dos grandes atrativos em muitos dos espaços escolares que conseguem utilizar com inteligência o poder de tal ferramenta para dinamizar o processo educativo e com isso enriquecer o aprendizado dos alunos.

Por conta desse crescimento o uso dos meios digitais na educação tem sido alvo de muitas pesquisas, e algumas delas já conseguiram comprovar aquilo que muitos professores haviam constatado por meio de suas práticas mais inovadoras: que as mídias digitais contribuem para a melhoria da aprendizagem dos alunos.

Ao contrário do que algumas pessoas possam imaginar o uso desses recursos não são somente necessários junto aos adolescentes ou adultos, mas principalmente às crianças. Eu diria, inclusive, pela observação que tenho feito de práticas que acontecem no meu cotidiano, que já a partir dos quatro anos de idade é possível desenvolver um trabalho relacionado à informática educativa de forma bastante dinâmica e com eficácia, pois nessa fase há um desejo muito grande de experimentar o novo, de manusear, de descobrir... E são essas características que torna a experiência construtiva, pois as crianças, nessa fase, superam os próprios limites em busca das novas descobertas.

Com os maiores, há uma diversidade incrível de experiências de sucesso, principalmente com o uso de blog´s, que tem sido um grande diferencial nas aulas de muitos professores.

É importante destacar, que mesmo sendo algo inovador, é necessário que haja muita pesquisa e um planejamento consistente, com metas e objetivos bem claros, do contrário, o que era para tornar o processo educativo diferente, acaba se transformando em mesmice, e em nada vai contribuir para o enriquecimento da aprendizagem do aluno.

Independente das dificuldades encontradas cabe ao professor dá o primeiro passo, principalmente se não quiser ficar alheio ao que acontece no contexto que ele, aluno e escola estão inseridos. Não dá mais somente para vivermos de quadro negro e giz, há muitas linguagens que precisam e devem ser exploradas, e as linguagens dos meios tecnológicos, principalmente, do computador, que traz “à tiracolo” a grande rede mundial que envolve as mais diversas ferramentas sociais que conhecemos, são mais do que necessárias no processo ensino-aprendizagem, pois elas são capazes de oferecer elementos que só enriquecem o encontro de quem ensina com quem aprende, mesmo sabendo que ao final todos somos aprendizes dentro de um processo educativo.

domingo, 17 de outubro de 2010

DICA DE CURSO: APRENDIZAGEM BASEADA EM PROJETOS



O Instituto Paramitas está oferecendo o curso Aprendizagem Baseada em Projetos promovido pela Intel. Uma nova série de cursos na web para auxiliar professores a desenvolver melhor a aprendizagem dos seus alunos com o auxílio de tecnologias. O primeiro desta série de cursos é o “Aprendizagem com projetos”. O curso tem carga horária de 60hs para os educadores que realizarem o curso e elaborarem o Plano de Aula. Neste curso é possível explorar características e benefícios da Aprendizagem por meio de Projetos usando cenários de sala de aula reais. Dentre os assuntos abordados nos módulos destacamos:

-Visão geral de projetos;
-Concepção de projetos;
-Planejamento de projeto;
-Orientação de aprendizagem;
-Avaliação.

O curso oferece oportunidades de aplicar os conceitos adquiridos em Planos de Ação reais.

VANTAGENS DO CURSO:

-Curso focado nas necessidades dos professores, com foco no desenvolvimento de projetos;
-Metodologia de aprendizagem colaborativa: os professores podem interagir com outros educadores para a construção do projeto;
-Curso totalmente on-line, rompendo barreiras de tempo e espaço;
-Liberdade de navegação, de modo que os participantes poderão definir o próprio percurso de aprendizagem.

Aqueles que tiverem interesse e acreditam que podem concluir o curso até o final, pois isso é muito importante  para não tirar a oportunidade de outras pessoas que também gostariam de fazer o curso, é só acessar o link para efetuar a matrícula, aqui mesmo no BLOG, na coluna lateral direita, sessão "DICAS". Além da inscrição, é possível ter outras informações sobre o curso.

Não percam tempo e boa sorte!

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

DIA DE QUEM?




Quem me conhece sabe o quanto abomino essa história  de comemoração de algumas datas tidas como "comemorativas", principalmente, porque  no final das contas a data em si não faz menção à comemoração nenhuma. Na grande maioria dos casos, ou são modismos criados pelo mercado capitalista para lhe gerar muito mais lucro , ou refletem lembranças bastante desagradáveis que ao invés de serem chamadas "comemorativas" deveriam ser chamadas de "reflexivas" ou até mesmo "reivindicativas".

Em relação ao dia de hoje, por exemplo, tido oficialmente aqui no Brasil como o "dia do professor", a situação não é tão diferente assim. Pude perceber, ao longo do dia, o quanto as pessoas se cumprimentaram, o quanto desejaram felicidades aqueles que são professores... Mas será que alguém sabe o que realmente se comemora? Ou melhor, será que , de fato, existe algo a ser comemorado por traz desse dia? Há reflexões sobre isso?

Revisitando um pouco a história brasileira percebo que a minha indignação com certas "comemorações" não é à toa, e quanto ao dia de hoje, a situação é bem mais complexa do que eu imaginava.

Há  um bocado de anos atrás, exatamente em 15 de outubro de 1827, foi outorgado, por D. Pedro I, um decreto imperial  que se tratava, mais especificicamente, da primeira Lei geral relativa ao Ensino Elementar. Essa lei, conforme aponta os registros da época, tratou dos mais diversos assuntos, desde a descentralização do ensino, remuneração dos professores e mestras, ensino mútuo, currículo mínimo, admissão de professores até  as escolas das meninas.  Puxa, que maravilha! Dito assim, de forma bem geral parece que se trata da melhor coisa do mundo. E se fosse verdade, realmente eu me redimiria, engoliria as minhas humildes palavras e seria a primeira a aplaudir  pela grandiosidade do dia. Mas ao que me parece, essa era a proposta- de ser algo melhor, que contribuísse para o avanço do ensino.Se isso foi colocado em prática, ou se ao menos aconteceu em algum momento é uma outra história.
Mas uma coisa é certa: vocês sabem qual a primeira contribuição dessa "bendita" Lei, ainda em de 15 de outubro de 1827? Foi a de determinar, no seu artigo 1º, que as Escolas de Primeiras Letras (hoje, ensino fundamental) deveriam ensinar, para os meninos, a leitura, a escrita, as quatro operações de cálculo e as noções mais gerais de geometria prática. Quanto às meninas, pobres coitadas! Sem qualquer embasamento pedagógico, estavam excluídas das noções de geometria. Mas haveria algo muito "bom", "oportuno" e bastante "pertinente" para as pobres infelizes.Sim, as tão famosas "prendas": costurar, bordar, cozinhar... Tudo em prol da economia doméstica. Teria destino melhor para as mulheres daquela época?

Não quero aqui me prolongar em questões que não são centrais, mas todos nós sabemos a verdadeira  resposta para tal pergunta, não é mesmo?

Bom, é evidente que o tempo passou e que houve avanços em relação à referida lei, mas afirmar, depois de tal exposição que há algo a se comemorar é um tanto contraditório para quem se diz educador. Afinal de contas, mesmo anos depois a mulher, principalmente negra e índia continua pertencendo às classes mais marginalizadas; A descentralização das escolas, em muitos locais, só acontece no papel; o salário dos professores é o grande gargalo de todos os tempos, e a resposta, muitas vezes insensata, para explicar grande parte dos problemas educacionais. E o currículo, meu Deus! Esse sim, continua mais elitista do nunca. Fortalecendo o reinado da burguesia e fragilizando àqueles que mais precisam.

Aos educadores, de fato, aqueles que lutam diariamente pela mudança desta realidade, os meus parabéns, não somente por hoje, mas por ontem, por manhã, por depois e por todos os demais dias em que continuarão lutando pela tão sonhada transformação social.

LENDA SOBRE O PROFESSOR



Conta a lenda que quando Deus liberou o conhecimento sobre como ensinar os homens determinou que aquele "saber" ficaria restrito a um grupo muito selecionado de sábios. Mas, neste pequeno grupo, onde todos se achavam "semi-deuses", alguém traiu as determinações divinas... Aí aconteceu o pior!

Deus, bravo com a traição, resolveu fazer valer alguns mandamentos:

1º - Não terás vida pessoal, familiar ou sentimental.

2º - Não verás teu filho crescer.

3º - Não terás feriado, fins de semana ou qualquer outro tipo de folga.

4º - Terás gastrite, se tiveres sorte. Se for como os demais, terás úlcera.

5º - A pressa será teu único amigo e as suas refeições principais serão os lanches, as pizzas e o china in box.

6º - Teus cabelos ficarão brancos antes do tempo, isso se te sobrarem cabelos.

7º - Tua sanidade mental será posta em cheque antes que completes 5 anos de trabalho;

8º - Dormir será considerado período de folga; logo, não dormirás.

9º - Trabalho será teu assunto preferido, talvez o único.

10º - As pessoas serão divididas em 2 tipos: as que ensinam e as que não entendem (a melhor!).

11º - A máquina de café será a tua melhor colega de trabalho, porém a cafeína não te fará mais efeito.

12º - Happy Hours serão excelentes oportunidades de ter algum tipo de contato com outras pessoas loucas como você.

13º - Terás sonhos, com cronograma, planejamento, provas, fichas de alunos, provas substitutivas e não raro, resolverás problemas de trabalho neste período de sono.

14º - Exibirás olheiras como troféu de guerra.

15º - E o pior: inexplicavelmente gostarás de tudo isso...

Autor Desconhecido

domingo, 10 de outubro de 2010

CONSULTA PÚBLICA SOBRE ORIENTAÇÕES CURRICULARES NACIONAIS DA EDUCAÇÃO INFANTIL

Agora, aquele que tem interesse pode debater com os consultores do MEC as Orientações Curriculares da Educação Infantil.


As Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil, aprovadas em 17 de dezembro de 2009 determinam que cabe ao Ministério da Educação elaborar orientações para a implementação dessas diretrizes. Visando atender essa determinação, a Secretaria de Educação Básica, por meio da Coordenação Geral de Educação Infantil, está elaborando orientações curriculares num processo de debate democrático e com consultoria técnica especializada sobre diferentes eixos e experiências da educação infantil. O objetivo principal é contribuir com o trabalho do professor.

No período iniciado em 13 de setembro e que se encerrará em 30 de outubro aquele que tiver interesse e quiser participar pode enviar suas sugestões, críticas e propostas. Os documentos preliminares estão à disposição de gestores, conselheiros, técnicos, professores, pesquisadores e da comunidade para consulta e colaboração. Envie sua mensagem diretamente ao autor e com cópia para consultapublicacoedi@mec.gov.br.
Leia abaixo os textos elaborados pelos especialistas e expresse, desde já, sua opnião:

Zilma de Moraes Ramos de Oliveira

Maria Carmen Silveira Barbosa

Tizuko Morchida Kishimoto

Iza Rodrigues da Luz

Damaris Gomes Maranhão

Márcia Gobbi

Mônica Correia Baptista

Priscila Monteiro

Léa Tiriba

Ana Paula Soares da Silva

Hilda Micarello

Fonte : MEC

sábado, 9 de outubro de 2010

É PRECISO OUVIR AS CRIANÇAS


Sociólogo da infância aponta a necessidade de percebê-las como um grupo com ideias próprias, distinto dos demais, e diferenciado entre os indivíduos que o compõem

A sociologia da infância se propõe a construir a primeira fase da vida do ser humano livre de interpretações nas quais as crianças se desenvolvem independentemente da construção social, das suas condições de existência e das representações e imagens historicamente construídas sobre e para elas. Trata-se de uma área nova, recém-desbravada por pesquisadores de todo o mundo. Manuel Jacinto Sarmento, diretor do Centro de Educação da Universidade do Minho, em Portugal, é um deles. "Os estudos têm dito, há 20 anos, de maneira enfática, que os pequenos necessitam ser conhecidos em sua verdadeira realidade."

Durante visita ao Brasil para uma série de encontros, eventos e visitas, Sarmento concedeu entrevista à repórter Cristiane Marangon logo após sua exposição em um congresso de educação infantil realizado em Maceió (AL). "Tenho aprendido muito com os brasileiros e com suas experiências concretas de vida. Há muita troca de conhecimento e esses intercâmbios também são de muita aprendizagem."

É possível definir um tipo de infância?
Essa questão é controversa e muito debatida por diferentes autores. Alguns dizem que é necessário falar da infância no singular para tratá-la como categoria social. Os sociólogos que trabalham com essa visão se preocupam com indicadores sociais de demografia ou de economia e também de natureza simbólica. Na demografia, procura-se perceber de que modo o grupo infantil estabelece relações de porcentagem com outros agrupamentos populacionais e quais são os diferentes espaços que ocupam na sociedade. Do ponto de vista econômico, entende-se que as crianças, com exceção daquelas vinculadas ao trabalho infantil, se caracterizam por não participar da economia e, por isso, não são importantes como classe econômica. No simbólico, as concessões que existem traduzem-se nos modos de agir dos adultos em relação às crianças. Há também os sociólogos que trabalham na base interpretativa ou crítica, que tendem a encontrar e pluralizar as formas de infância. Consideram que a ação caracteriza a categoria pelos desempenhos coletivos e individuais, que são atravessados pelos gêneros, pelas classes sociais, pelas etnias, pelas diferenças que dizem respeito ao espaço no mundo e tendem a enfatizar que existem várias infâncias.

E qual é o seu entendimento sobre a infância?
Não é possível dizer que há uma única infância. Necessitamos articular as concepções para perceber o que é comum a todas as crianças. Na minha opinião, ela deve ser percebida como um grupo geracional, distinto do mundo adulto. As crianças são diferentes umas das outras e, nessa diversidade, há fatores sociais acentuados, que não são puramente individuais. Por exemplo, há elementos comuns por uma parte de tempo de suas vidas, pois vivem sob a guarda de responsáveis, já que não são capazes de ficarem sozinhas. No entanto, isso mudou ao longo do tempo. A independência delas tem sido retardada em relação ao que ocorria há 20 anos. A entrada no mercado de trabalho se dava mais cedo e, por isso, ficavam longe da guarda de seus pais precocemente.

Como a infância tem sido interpretada pelos adultos?
Vivemos em um tempo em que há uma coincidência de várias concepções - desde que a criança deve ser submetida a processos rigorosos de controle de autoridade até a que ela, sendo um ser de direito, precisa ser respeitada na sua autonomia. Essas representações são bem diferenciadas e acompanham a história da humanidade nos últimos 250 anos. É possível dizer que há dois polos. Um deles é que a criança é um ser irracional e imoral e, por isso, deve ser submetida a processos de racionalização e moralização, que acontecem pela educação, seja familiar ou escolar. A outra concepção é que a criança é naturalmente boa e que, para educá-la, basta sustentar e apoiar seu desenvolvimento. Vale ressaltar que essas compreensões são produzidas, principalmente, na sociedade ocidental e disseminadas pelo mundo. É preciso que todos saibam que existem infâncias diferentes. No Brasil, por exemplo, há comunidades indígenas em que só se deixa de ser criança ao se tornar pai ou mãe.

Como o docente pode chegar mais perto do que as crianças pensam para estabelecer uma comunicação mais adequada?
A escola foi edificada com base em um modelo cognitivo, ou seja, um entendimento de homem, de sociedade, de cultura e de criança, que sempre formou os educadores. A instituição escolar é pensada como um lugar de transmissão de cultura para um sujeito que está inserido na sociedade e em processo de transição. A passagem pela escola serve para que isso seja garantido. Ela está centrada na comunicação, portanto, no poder do adulto sobre a criança, pois se supõe que os pequenos são seres em desenvolvimento e passam por várias etapas. No entanto, os estudos da criança têm dito, há 20 anos, de maneira muito enfática, que elas necessitam ser conhecidas em sua verdadeira realidade. A própria psicologia tem desmentido as etapas de desenvolvimento concluídas por Jean Piaget, consideradas adultocêntricas, pois o desenvolvimento humano é feito em contextos sociais e culturais. Não há linearidade e nem teleologia que independam de contexto e também de circunstância em que se encontram os pequenos. Precisamos trabalhar em uma renovação na concepção que forma os professores, pois eles decidem o trabalho nas escolas.

Quais são os danos para as crianças mais afastadas culturalmente da escola?
Elas reagem desenvolvendo estratégias de sobrevivência, como abandonar a escola precocemente e procurar sentido para a vida fora desse espaço. Isso nada mais é que uma atitude de resistência. O indivíduo encontra satisfação e referência pessoal no contato com amigos e vizinhos e, por isso, passa a criar aspirações e expectativas compatíveis com essas motivações. No entanto, é importante destacar que há benefícios mesmo quando há danos, pois essas crianças encontram duas coisas fundamentais na escola: um espaço público e de convivência. No primeiro caso, elas são reconhecidas como membros de uma sociedade, o que é simbolicamente importante. No segundo, é fundamental conviver com outras crianças e poder desenvolver as culturas de pares. É claro que pode haver outros benefícios, mas isso depende da capacidade que a escola tem de gerir sua autonomia e de ir ao encontro dos que estão mais afastados de sua cultura, promovendo relações, produzindo seu conhecimento a partir do que se percebe e, nessas circunstâncias, poder lidar e gerir mais adequadamente o abandono, se ele acontecer.

O senhor defende que as crianças participem de maneira ativa na vida social. De que maneira?
A participação da criança na sociedade é um elemento novo que está expresso no documento A Convenção sobre os Direitos da Criança, das Nações Unidas, de 1989, em que se consagrou a ideia de que a criança não pode ser ignorada em sua opinião sobre os aspectos que lhe dizem respeito, atendendo à capacidade que ela tem de exprimir a própria opinião. Sua participação social significa que o conhecimento que ela tem deve ter voz, deve ser auscultada e deve ter efeito, ou seja, influenciar seu modo de vida. Atualmente há um movimento nas cidades amigas da criança, cujo eixo central é ouvi-las na formulação de políticas públicas no que diz respeito ao mobiliário, ao equipamento, à mobilidade, à programação de atividades etc. Elas deveriam ser ouvidas também politicamente e isso não tem a ver com o fato de ter direito a voto, ainda que não seja uma ideia não instrumentada. Isso acontece em alguns grupos sociais. Em uma comunidade indígena brasileira, por exemplo, sempre que há um assunto importante, todos se reúnem em assembleia e têm direito de exprimir opinião. A decisão cabe aos mais velhos, mas sempre depois de ouvir a todos. Inclusive, as mulheres grávidas podem falar duas vezes porque é considerado o filho que se desenvolve no seu ventre. Isso é a ruptura com um modelo mental do nosso tempo em que a criança não tem participação política porque não fala.

Como funcionaria na prática?
Trata-se de criar dispositivos institucionais para auscultação das vozes das crianças por meio de inquéritos de opinião, caixas de sugestões, linhas de comunicação - seja telefônica ou pela internet - e realização de processos de audição. Isso pode, em alguns casos, nomear representantes dos grupos infantis organizados com seus conselhos para serem ouvidos. É um modelo que reproduz as democracias ocidentais. Essa atitude necessita ser permanente, não pode se esgotar no dia a dia e precisa de dimensão mais profunda, seja na escola, na cidade ou na família. Há vários municípios que desenvolvem atividades e projetos assim. Os mais conhecidos são os de algumas cidades italianas.

Muitos produtos direcionados ao público infantil são feitos por adultos e, inclusive, carregam os valores do mundo adulto. De que maneira isso influencia a vida das crianças?
Na cultura industrial, em que os conteúdos e os produtos são feitos pelos adultos para o consumo infantil, nunca se deixa de reproduzir os estereótipos do mundo adulto. Walt Disney, por exemplo, tem uma produção cultural própria de grande difusão com conceitos e valores identificados como patriarcais, paternalistas, conservadores, que revelam padrões de uma família burguesa ocidental em que raras vezes se encontram modelos diferentes dos brancos anglo-saxônicos. Essas produções também são formas culturais influentes e com muita capacidade de atração. Isso se deve ao fato de elas jogarem na dimensão da ficcionalidade, que é importante na cultura da infância, ou seja, na transposição imaginária do real e da ludicidade. Alguns estudos têm mostrado que há uma grande homologia entre os movimentos imaginários dos adultos e os das crianças na produção da indústria cultural infantil e que essa relação vai acompanhando o fluxo dos tempos.

O senhor afirma em seus estudos que as crianças são produtoras de cultura. Como é possível, se elas são influenciadas pelos adultos?
As crianças não estão sob a tutela dos adultos o tempo todo. Elas sofrem processos de socialização na relação com os pais, as famílias, os vizinhos e os professores, mas também se envolvem socialmente com seus pares. Nas brincadeiras e nos jogos, seja em tempo real ou virtual. Isso é comum e importante. Mesmo atravessadas pelos adultos, elas produzem culturas próprias. É comum atribuir ao adulto o título de produtor cultural, mas é importante ressaltar que eles também são atravessados pelas culturas que herdaram. Não há diferença sobre a condição do adulto como produtor cultural e a da criança. O pintor Pablo Picasso, por exemplo, foi um produtor cultural revolucionário, que alterou muito a cultura ocidental e fez muitas relações com as quais convivia. Produção cultural, mesmo quando genial, é sempre feita na relação. É importante que as crianças produzam a própria cultura nas condições que têm para fazer isso.

Fonte: Revista Educação, Edição 161, Setembro de 2010

sábado, 2 de outubro de 2010

SONHOS


Depois de uma semana longe de casa, cá estou no aconchego do meu lar. Matar a saudade da família, dos amigos, receber mimos e manhas que só aqueles que nos conhecem muito bem são capazes de nos contemplar.

Após a calmaria, a cabeça volta a ferver diante de tantas novas vivências conhecidas e tantos novos conhecimentos compartilhados. Foram pessoas: adultos, adolescentes e crianças, que cheios de vontade e com muita alegria puderam expressar de modo carinhoso um pouquinho de seus sonhos. Sonhos grandes, pequenos, fáceis, difíceis, mas não impossíveis quando se põe a alma na trajetória pela sua conquista. Sonhos motivados pela esperança e pelo grande desejo de que a transformação social pode sim ser resultado de um processo coletivo, democrático, crítico e libertador.

Acreditar em tudo isso, aparentemente não é fácil, mas para os verdadeiros educadores a vida é sempre um grande desafio e encontrar a forma de encará-la de um jeito mais prático e menos doloroso é uma das nossas funções.

Motivar vontades, compartilhar ideias, mobilizar pessoas, incentivar mudanças, são ações sempre presentes em nossas vidas e na de muitos outros educadores Brasil a fora. E como é maravilhoso saber que os nossos sonhos não são tão solitários como imaginávamos. E que a luta por uma educação transformadora e libertadora é prioridade, também, em outros tantos cantos do nosso país.

Puxa! Bacana saber que mesmo numa sociedade tão capitalista como é a nossa, cujos processos educativos, em sua grande maioria, atendem ao modelo elitista, ainda existem pessoas preocupadas com o seu próximo e dispostas a colaborar para que essa realidade seja transformada. Pessoas as quais eu considero verdadeiros educadores, que refletem com clareza a imagem descrita por Rubem Alves em Conversas com quem gosta de ensinar: "Educadores habitam um mundo onde o que vale é a relação que os liga ao aluno, sendo que cada aluno é uma entidade sui generis, portador de um nome, também de uma estória, sofrendo tristezas e alimentando esperanças". E que também me faz recordar aquele apontado por Freire em Pedagogia da Autonomia, principalmente no que diz respeito ao reconhecer a origem de seus educandos, pois segundo o grande mestre, o verdadeiro educador precisa ter consciência que o ser humano é um ser condicionado a uma sociedade, a uma história, a uma cultura e essas características devem ser respeitadas e devem está presentes no ato de ensinar, fazendo com que os educandos possam refletir sobre sua própria existência. São esses "detalhes" que fazem o diferencial naqueles que podem, de fato, serem considerados, grandes educadores.

Para o meu alívio, ainda existem alguns , e mesmo que a batalha seja árdua, enquanto existirem, a educação deixará de ter como meta um produto final, onde os números falam mais alto, independente da qualidade, para se transformar num processo grandioso, capaz de contribuir para a reflexão e consequentemente para a liberdade de muitos.
Sigamos alimentando os sonhos, pois eles são essenciais para as grandes realizações.